Título: Pagot se compromete a entregar cargo no Dnit
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 23/07/2011, O País, p. 12

GASTOS PÚBLICOS

BRASÍLIA. Após resistir muito, inclusive com novas ameaças de revelar sua participação como arrecadador de campanha da presidente Dilma Rousseff, o diretor-geral afastado do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, assumiu o compromisso de entregar sua carta de demissão - o que seria feito ainda ontem à noite. A garantia de que deixará o governo foi dada pelo próprio Pagot à tarde, em conversa por telefone com o chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Pagot é indicado pelo PR, partido que dominava os Transportes e vem perdendo, um a um, todos os postos de comando no setor.

Antes de conversar com Gilberto Carvalho, Pagot chegou a desabafar para interlocutores do seu partido que era uma "injustiça" a forma como teria que sair do Dnit após ter cumprido tantas missões de governo e da campanha petista de 2010.

Lula disse ter as melhores recomendações sobre Pagot

Dilma não se sensibilizou com esses recados, mas, como forma de atender o PR, efetivou antes o pedido de demissão do petista Hideraldo Caron da diretoria de Infraestrutura Rodoviária do Dnit. Na avaliação de um auxiliar direto da presidente, isso permitiria uma saída honrosa para Luiz Antonio Pagot, que tirou férias para não ser afastado do cargo. Na quarta-feira, depois de um primeiro apelo feito por Gilberto Carvalho, Pagot demonstrava contrariedade. E ontem demorou a aceitar o recado de que havia chegado sua hora.

Conhecedor dessas atividades, em conversas reservadas, ontem, o ex-presidente Lula chegou a elogiar Pagot, dizendo que tinha as melhores recomendações do senador Blairo Maggi (PR-MT). Lula ainda revelou que na conversa que teve com Dilma, no Rio, disse à presidente que "ela fizesse o que precisava ser feito nos Transportes." Mas alertou a presidente de que ela não "poderia alimentar o julgamento sumário". Lula lembrou ontem o que disse a ela na longa conversa do Rio, há duas semanas:

- Tenha firmeza, mas não coloque as pessoas no paredão.

Segundo caciques do PR, tanto cuidado do Planalto com Pagot não foi por acaso: no início da crise, assessores foram alertados de que ele trabalhou na logística do comitê e havia funcionado como caixa de campanha. Para parlamentares do PR, foi depois dessa advertência que o afastamento virou férias. Ontem, num desabafo com aliado do partido, Pagot registrou que trabalhou até mesmo no "terceiro turno" (com arrecadação) para cobrir as dívidas da campanha.

- Estão esquecendo que teve terceiro turno da campanha, e eu estava lá. Ajudei na arrecadação desde o início e solucionei muitos problemas. É uma injustiça o que estão fazendo comigo agora - desabafou Luiz Antonio Pagot para esse interlocutor.

Ao GLOBO, um dirigente do PR confirmou que o partido escalou Pagot para ajudar na arrecadação da campanha petista. E que o seu desempenho foi elogiado pelo comitê de campanha, na ocasião. Mesmo assim, até mesmo o seu padrinho político, o senador Blairo Maggi, aconselhava-o nas últimas horas a "largar tudo" e deixar o governo.