Título: Diretor da Umes nega existência do mensalão
Autor: Falcão, Jaqueline; Gomes, Marcus Vinicius
Fonte: O Globo, 17/07/2011, O País, p. 12

Segundo o estudante, "não houve cooptação de deputados"

BRASÍLIA. Diretor de Projetos da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (Umes), Henrique Hettwer nega que o dinheiro público tenha influência sobre a atuação política da entidade. Mas, ao ser perguntado sobre o recente parecer do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que reafirmou as denúncias contra 36 réus do mensalão no governo do ex-presidente Lula, Hettwer foi categórico:

--- Essa é a interpretação dele (procurador). Não houve cooptação de deputados, houve muito mais uma tentativa de derrubada de um governo eleito democraticamente.

Em 2010, a CUT recebeu R$500 mil do Ministério do Desenvolvimento Agrário para um braço da entidade, a Escola Central-Oeste de Formação. O dinheiro é destinado a cursos de formação de agentes de desenvolvimento territorial, ou seja, pessoas que preparam diagnósticos sobre a região para subsidiar as políticas públicas.

Para especialista, repasses podem gerar desmobilização

Para o cientista político Leonardo Barreto, do Instituto FSB, o repasse de recursos federais para entidades que representam segmentos da sociedade executarem políticas públicas tem aspectos positivos e negativos. Em alguns setores, destaca, essa estratégia é bem-sucedida, citando os exemplos dos conselhos de Saúde, da merenda escolar e de programas de capacitação e alfabetização.

Por outro lado, Barreto enfatiza que o aspecto negativo é a desmobilização, resultado da dependência econômica que esses setores têm hoje do Estado.

- Hoje, não existem movimentos de organizações da sociedade civil atuantes e fiscalizadores porque a maior parte depende dos recursos do governo - afirma.

Barreto cita o exemplo da União Nacional dos Estudantes (UNE):

- Onde já se viu um ministro da Educação discursando no Congresso da UNE e sendo aplaudido? - disse Barreto, referindo-se à presença de Fernando Haddad no congresso em Goiânia, semana passada.

No caso da UNE, além de ter construído a nova sede integralmente com recursos de estatais, em 2010 reforçou o caixa com um repasse expressivo de verbas federais, no valor de R$30 milhões, a título de indenização pela perda da sede em 1964. (Regina Alvarez e Roberto Maltchik)