Título: Setor produtivo do país espera plano industrial para recuperar prejuízos
Autor: Oliveira, Eliane; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 31/07/2011, Economia, p. 38

Governo anuncia pacote na terça. Em 4 anos, segmento perdeu US$76 bi

BRASÍLIA. O drama do setor produtivo brasileiro - abalado pela falta de competitividade provocada pelo câmbio, pela elevada carga tributária e pela falta de infraestrutura - pode ser medido em números. Se, em 2006, o Brasil tinha um superávit comercial na balança de produtos industrializados de US$5,370 bilhões, em 2010, houve um déficit de US$71,145 bilhões, segundo dados do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex). Ou seja, em quatro anos, sangraram da indústria nacional para o caixa de fabricantes no exterior US$76,515 bilhões. E é com a nova política industrial, que deve ser anunciada pela presidente Dilma Rousseff na terça-feira, que o setor espera minimizar o prejuízo.

Os técnicos corriam neste fim de semana - por ordem expressa de Dilma - para fechar um pacote de benefícios para o setor produtivo que seja robusto. A presidente disse em reunião na sexta-feira, na qual irritou-se com a resistência do Ministério da Fazenda, que é preciso oferecer desonerações significativas às empresas, sobretudo para a compra de máquinas e equipamentos.

O esforço é para evitar que o rombo na pauta de industrializados cresça mais do que o déficit de 2011. A estimativa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) é de um saldo negativo superior a US$100 bilhões só na venda de produtos acabados. O presidente da entidade, Paulo Skaf, diz que um montante dessa natureza equivale à criação de mais de um milhão de empregos no exterior, graças ao que ele batizou de "tsunami de importações".

- Se o problema fosse apenas da indústria, teríamos como corrigi-lo. Da porta das fábricas para dentro, as indústrias são modernas. Mas da porta para fora enfrentamos problemas de logística, falta de infraestrutura, necessidades de uma reforma trabalhista, além do real sobrevalorizado artificialmente, para roubar a competitividade da indústria brasileira - diz Skaf.

Para analista, meta de redução do déficit é difícil

Cálculos conservadores mostram que o Brasil terá de fazer um esforço exportador superior a US$40 bilhões nos próximos três anos para que o déficit comercial no setor, projetado em US$100 bilhões este ano, caia 40% até dezembro de 2014. O percentual faz parte de uma das metas gerais que serão divulgadas pelo governo, para serem atingidas até o fim de 2014.

- É um superdesafio a redução do déficit em industrializados. Vai depender de uma série de fatores, entre os quais a situação da economia brasileira e as condições do mercado internacional - avalia o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento.

No primeiro semestre de 2011, enquanto a balança de básicos, sustentada por altas cotações das commodities nas bolsas internacionais, tinha superávit de US$39,917 bilhões, o segmento de industrializados apresentava déficit de US$29,523 bilhões.

Entre vários exemplos, as exportações de semimanufaturados de ferro e aço caíram 46,6% para a Coreia do Sul. A queda nas vendas de automóveis brasileiros foi gritante: 91% no caso da Malásia, 80% para a Alemanha e 38% para o México, país que tem acordo de preferências tarifárias na área automotiva com o Brasil e voltou a embarcar unidades para o mercado brasileiro.

Por outro lado, as importações de automóveis da China subiram 288%, as compras de autopeças da Coreia do Sul aumentaram 148% e as aquisições de motores, geradores e transformadores elétricos da Espanha deram um salto de 644%.

- A presidente da República sempre quis que a nova política tivesse como enfoque a inovação tecnológica, mas agora defende que o desempenho exportador do Brasil ganhe espaço semelhante - diz um alto funcionário do governo.

Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, medidas que ficam no papel não resolvem. Ele cita a devolução de créditos aos exportadores pela Receita Federal.

- Nem todos estão recebendo - afirma Castro.