Título: Muitos jovens cariocas fora do mercado
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Fonte: O Globo, 31/07/2011, Opinião, p. 6

O município do Rio de Janeiro registra uma das mais baixas taxas de desemprego do Brasil, segundo o IBGE. Esse índice é sempre inferior à média das principais regiões metropolitanas, e tem se situado na faixa de 5% a 5,5% da população economicamente ativa. Com uma economia calcada fortemente na prestação de serviços, o município responde por cerca de 75% dos empregos da região metropolitana. E com elevado grau de formalização (60%) para os padrões brasileiros. Vistos friamente, esses indicadores apontariam para uma situação que os economistas chegam a conceituar como de pleno emprego. Mas não é exatamente essa a realidade.

Embora a média salarial do Rio fique acima das demais regiões metropolitanas (possivelmente ajudada por alguns segmentos, como a administração pública, ainda grande empregadora formal no município), existe um outro fenômeno, grave, que é o intitulado absenteísmo laboral.

A proporção de pessoas que estão no mercado (empregados ou desempregados) na faixa etária de 18 a 24 anos diminuiu ligeiramente nos últimos anos no Rio, e se mantém bem abaixo da média registrada por outras cidades, como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Nesses indicadores, o Rio se aproxima mais do quadro de Recife e Salvador, em cujas regiões metropolitanas a taxa de desemprego supera a média nacional.

Há questões específicas que podem influenciar esses indicadores. Somente em 2011, por exemplo, a construção civil no Rio, e no estado como um todo, conseguiu ficar acima da média nacional. Mas, de maneira objetiva, há evidências de um desencontro entre oportunidades que estão surgindo no mercado carioca e os jovens que potencialmente poderiam aproveitá-las.

Para tal, esses jovens precisariam estar estudando, seja no ensino convencional médio ou superior, ou em cursos de preparação profissional. E os dados nesses campos permanecem aquém do desejável.

Parte do desencontro pode ser explicado pelo problema da violência que dominou comunidades pobres da cidade e afastou grande número de jovens das oportunidades no mercado formal de trabalho.

Com a pacificação dessas comunidades, e a quebra de outros obstáculos que transformaram certas regiões do município em guetos isolados do resto da cidade, as autoridades têm a possibilidade de atacar mais diretamente as causas do absenteísmo laboral.Enquanto o absenteísmo for elevado, uma numerosa massa de jovens será presa fácil do crime, do consumo de drogas, da degradação social e humana.

O esforço de integração equivale ao que se chamou de "UPPs sociais". Se por um lado a ocupação policial evita o domínio territorial pelo tráfico e permite que serviços públicos básicos cheguem a todos os cidadãos cariocas, por outro será necessária uma ação específica para aproximar mais os jovens do mercado de trabalho. As oportunidades que surgem na esteira dos projetos da Copa e das Olimpíadas não podem ser desperdiçadas.