Título: Irmão de líder do governo denuncia esquema de fraudes na Agricultura
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 31/07/2011, O País, p. 4

Demitido da Conab, Oscar Jucá acusa ministro e diz que há bandidos na companhia

BRASÍLIA. Demitido da direção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) depois de autorizar - sem permissão e com verba que não poderia ser usada para esse fim -, um pagamento para uma suposta empresa de fachada, Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou que há um esquema de corrupção e desvio de recursos na companhia estatal, subordinada ao Ministério da Agricultura, maior do que os escândalos do Dnit.

Em entrevista à revista "Veja", Jucá Neto, o Jucazinho, diz que na Conab "só tem bandido" e acusa o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, de envolvimento em irregularidades, embora admita não ter provas. Ao GLOBO, Wagner Rossi rebateu as denúncias e acusou Jucá Neto de querer transformar sua demissão - por ter cometido ato inidôneo - em um caso político. Para o ministro, trata-se de "retaliação".

"Se eu fosse a presidente demitiria todo mundo lá"

Entre os casos narrados por Jucá Neto está o da empresa Caramuru Alimentos. A firma teria uma dívida judicial de R$14,9 milhões, mas segundo Jucazinho, o procurador-geral da Conab, Romulo Gonsalves, lhe informou que o pagamento seria de R$20 milhões. A diferença seria repartida entre autoridades do ministério. "Corrupção? Com certeza. Se eu fosse a presidente da República demitiria todo mundo lá", afirmou à "Veja". O segundo caso relatado pela revista se refere à venda em janeiro deste ano de um terreno da Conab em Brasília. A área foi leiloada por R$8 milhões, mas teria valor superior. O comprador é vizinho do senador Gim Argelo (PTB-DF).

De acordo com Jucá Neto, depois de demití-lo, Rossi o teria chamado para uma conversa em que ofereceu uma compensação. Conforme relatou à revista, o ministro, na conversa, teria dito que ele teria "participação em tudo". Jucá Neto alega ter entendido que a oferta era de propina. "O ministro sugeriu que eu pensasse na possibilidade de mudar de cargo e disse num tom de voz enigmático: fica tranquilo que você vai participar de tudo". Jucá Neto disse que não aceitou a proposta: "Ali só tem bandido e não vou trabalhar com bandidos."

O ministro Wagner Rossi diz que as acusações são "uma retaliação". Ele afirma que nunca autorizou acordo judicial ou extrajudicial com nenhuma empresa e que o valor a ser pago à Caramuru foi fixado pela Justiça. No caso do terreno, Rossi disse que a venda foi feita por ata pública e preço fixado pela CEF. Ele ainda afirmou que a revista optou por "ignorar" as explicações.

- Foi uma coisa descabida, uma retaliação tão clara às providências que fui obrigado a tomar contra o senhor Oscar Jucá Neto, porque cometeu impropriedades administrativas graves. Ele nunca falou sobre nenhuma dessas coisas, mas pêgo numa situação em que as ações dele foram claramente inadequadas, ele agora vem com uma retaliação descabida, caluniosa e mentirosa. Não há nenhum fato ali, há uma série de aleivosias, xingamentos e destempero de alguém que perdeu o cargo por sua própria ação incorreta.

Antes de rebater as acusações, o ministro, que já foi presidente da Conab, avisou ao Planalto sobre sua resposta. O vice-presidente Michel Temer, padrinho político de Rossi, também estava informado do assunto, segundo interlocutores.

Romero Jucá critica irmão e lamenta acusações

Ao comentar as declarações do irmão de Jucá, Wagner Rossi afirmou que ele "inventou" a conversa. Para o ministro, Jucá Neto ficou magoado ao perder o cargo. Segundo ele, o líder Romero Jucá teve uma "atitude correta no episódio" e fez apenas um pedido para que o irmão retornasse ao cargo de assessor, que ocupava antes de ser diretor.

Rossi ainda reagiu às declarações de Jucá Neto de que na Conab só existem "bandidos".

- (Diz que) lá só tem bandidos. Mas ele ficou lá um ano e pouco e nunca falou nada. Só falava elogios da Conab. Sentimento de quem está magoado e ressentido por ter sido retirado do cargo - ironizou Rossi.

Romero Jucá também criticou o irmão. Ele telefonou ontem para Rossi e se "solidarizou". A avaliação do PMDB nos bastidores é que o PT tenta usar o episódio para desestabilizar Jucá no Senado, pois o partido estaria de olho na liderança.

- Solidarizo-me com o ministro. Conversei isso com o Rossi e não concordo com essa postura dele (Jucá Neto). Discordo das informações e lamento essa posição. Fui surpreendido. Estou envolvido involuntariamente e lamento. Mas o cargo de líder é de confiança da presidente - disse Jucá.