Título: Dólar volta a cair, para R$1,554
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 30/07/2011, Economia, p. 29

Depois de dois dias de alta, moeda americana recua 0,76%

Após dois dias seguidos de alta, com valorização acumulada de 1,88%, o dólar comercial fechou ontem em queda de 0,76%, cotado a R$1,554, influenciado pelos mercados internacionais e por um cenário econômico que segue indicando fluxo de recursos para o Brasil. Na quarta-feira e na quinta-feira, o dólar subiu após o anúncio, pelo governo, de que os contratos de derivativos no mercado futuro de câmbio serão tributados com Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sempre que houver um grande descasamento entre apostas na queda e na alta da moeda americana.

Mas a alta do dólar no Brasil, nesses dias, acompanhou a tendência da moeda lá fora. E, ontem, quando o dólar caiu frente ao real, também perdeu valor em relação a outras moedas, influenciado pela divulgação de que a economia americana só cresceu 1,3% no último trimestre. A desvalorização do dólar perante o euro foi de 0,45% e, contra o franco suíço, de 1,99%.

Para o operador de câmbio da Renascença DTVM José Carlos Amado, o mercado pode ter começado a perceber que a conjuntura econômica pesa a favor da valorização do real. Contam a favor da moeda brasileira fatores como o alto nível da taxa básica de juros do Brasil (Selic) em relação às taxas dos demais países e o fato de as economias emergentes estarem mais dinâmicas do que as desenvolvidas.

"É difícil lutar contra fundamentos", diz analista

Segundo o sócio do Banco Modal responsável pela área de câmbio, Luiz Eduardo Portella, os fundamentos podem falar mais alto do que a taxação das operações com câmbio futuro. Afinal, a remuneração proporcionada pela Selic pode compensar mesmo com a cobrança do IOF.

- É difícil lutar contra fundamentos. Os dados sobre a economia americana divulgados hoje (ontem) mostram um dólar mais fraco no mundo - afirma Portella.

Na avaliação do estrategista da CM Capital Market, Luciano Rostagno, o cenário internacional foi preponderante no mercado de câmbio. Além disso, como ontem foi o último dia do mês, o mercado futuro foi influenciado pelo vencimento de contratos.

- Como é o último dia do mês, não dá para avaliar muito bem a influência das medidas anunciadas pelo governo no mercado futuro - diz Amado, da Renascença.

No mercado futuro, os contratos para agosto fecharam com queda de 0,70%, com o dólar comercial a R$1,556. Já os contratos para setembro fecharam em baixa de 1,05%, cotados a R$1,564.

Os contratos vencidos ontem foram os primeiros a serem liquidados com o novo método de cálculo da Ptax - taxa estabelecida pelo Banco Central (BC) para liquidar os contratos cambiais, que fechou ontem em R$1,556. O novo cálculo começou a valer em 1º de julho. Antes, a taxa era calculada a partir do volume ponderado das operações. Agora é usado um processo de quatro consultas diárias aos dealers de câmbio - bancos pelos quais o BC atua no mercado.

Para Mario Paiva, analista de câmbio da BGC/Liquidez, a mudança de método no cálculo já teria sido suficiente para reduzir as apostas de fim de mês dos investidores. A mudança fortalece o peso do mercado à vista na formação da Ptax.