Título: Acordo político enfraquece Obama e beneficia políticos conservadores
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 02/08/2011, Economia, p. 17

Presidente viu sua popularidade cair, e líder republicano teve de adiar votação

LONDRES e WASHINGTON. Com o acordo bipartidário para elevar o limite do endividamento federal e reduzir o déficit aprovado na Câmara, resta ver quem perdeu e quem ganhou nas discussões. Para o jornal britânico "The Guardian", o presidente Barack Obama claramente saiu perdendo no processo. Além de ver sua aprovação cair de 45% para 40%, Obama corre o risco de ser visto como fraco por não ter resolvido a crise mais cedo e por ter ficado de lado enquanto os líderes do Congresso costuravam o acordo. Seu único ponto positivo, segundo o "Guardian", foi ter impedido a manobra republicana de reprisar a crise da dívida no ano que vem, em meio às eleições presidenciais.

O presidente e líder da maioria na Câmara, John Boehner, também seria um perdedor, segundo o "Guardian", apesar da aparente vitória dos republicanos. Boehner passou por uma humilhação na quinta-feira, quando teve de adiar a votação de seu projeto por não ter conquistado os votos da ala ultraconservadora, ligada ao movimento Tea Party.

Pragmatismo de Reid contrasta com oposição

Já o veredicto para os membros do Tea Party, afirmou o "Guardian", vai depender das próximas eleições presidenciais. Isso porque, se parte da população os verá como irresponsáveis por terem levado o país à beira de um calote, outros os considerarão corajosos por forçarem cortes nos gastos do governo. Vários olhos estarão voltados para a deputada Michele Bachmann, que se opôs ferozmente a qualquer acordo com os democratas.

Nancy Pelosi, a líder dos democratas na Câmara, está na ala dos vencedores, segundo o jornal britânico. Ela se mostrou progressista ao exigir concessões dos republicanos, ao mesmo tempo em que apoiava Obama a costurar um acordo. No último sábado, ela acusou Boehner de ceder ao Tea Party e "passar para o lado obscuro". E ajudou os democratas a aprovarem o acordo na Câmara.

O quadro também não ficou claro para o líder democrata no Senado, Harry Reid. Um "congressista da velha guarda", segundo o "Guardian", mesmo não sendo um perdedor, ele não pode ser considerado um ganhador. Mas Reid ficará como o símbolo do "pragmatismo do Senado contrastando com a histrionice do Tea Party na Câmara". "Para Reid, a prioridade era evitar que os Estados Unidos entrassem em moratória, e o acordo fez isso."

Para "Economist", economia é que sai perdendo

Outra publicação britânica, a revista "The Economist" foi mais sucinta ao comentar quem ganhou e quem perdeu com o acordo fechado no domingo. O correspondente da revista em Washington afirmou, no blog Free Exchange, que "se os republicanos são claramente os ganhadores, a economia é a perdedora". "Um pacote ideal para reduzir o déficit teria juntado estímulo de curto prazo com consolidação de longo prazo para estabilizar e, então, reduzir a dívida em proporção do PIB".

O blog ressaltou que o acordo foi basicamente o que se previa nos bastidores: algumas reduções em programas sociais combinados a uma reforma fiscal parcial, sem os cortes draconianos defendidos pelo Tea Party. "Não faz nada para melhorar o cenário econômico de curto prazo e traz menos progresso que o esperado na consolidação fiscal a longo prazo."

"Os mercados subiram com o alívio de o caminho mais irresponsável ter sido evitado. Atender a um padrão tão baixo dificilmente deveria ser considerado um voto de confiança na maturidade política e fiscal dos EUA", afirmou a "Economist".