Título: Exercício político na escola
Autor: Pires, Luciano
Fonte: Correio Braziliense, 23/08/2009, Economia, p. 18

No Lyceu de Goiânia, Meirelles teve seu desempenho comprometido por atividades extracurriculares, mas nunca foi reprovado

Fotos: Paulo de Araújo/CB/D.A Press Lyceu de Goiânia: escola tradicional por onde já passaram prefeitos, governadores e dois presidentes do BC

Votaria nele tranquilamente. O Meirelles transmite confiança¿ Francisco Xavier da Costa, 52 anos, taxista

O pessoal fala bem do Meirelles. A vantagem é que ele não tem desgaste nenhum, nunca foi político¿ Roberto Alves, 36 anos, dono de banca de revista

Goiânia e Anapolís ¿ Pelo Lyceu de Goiânia passaram prefeitos, governadores e intelectuais. A tradicional escola pública da capital de Goiás ¿ que fica no centro da cidade e funciona até hoje ¿ também formou dois presidentes do Banco Central: Gustavo Loyola e Henrique Meirelles. Nos arquivos da secretaria estão guardados registros preciosos que revelam o desempenho escolar de cada aluno.

Meirelles estudou no Lyceu entre 1957 e 1962. Os boletins indicam que a performance em sala de aula do atual comandante do BC nem sempre foi a melhor. Mesmo tendo sido aprovado em todos os anos com menções globais acima da média exigida, em algumas matérias Meirelles deixou a desejar.

Durante a primeira série do curso científico, por exemplo, as notas baixas em exames orais de português, francês, inglês, espanhol e matemática prejudicaram os resultados finais. O histórico de 1961 aponta uma sequência de notas zero acumuladas ao longo do ano letivo. Na época, então com 16 anos, o presidente do Banco Central já se envolvia com política e faltava demais.

Na pasta de Henrique Meirelles guardada no Lyceu constam ainda pedidos de seus pais para que o filho pudesse cumprir os exames em outras datas. Provas de admissão e outros documentos estão anexados. Há inclusive a certidão de nascimento de Henrique Meirelles, cujo sobrenome está escrito com um ¿l¿. O erro no registro civil foi corrigido no ano passado. Por causa de um incêndio no cartório de Anápolis, berço de Meirelles, a grafia de seu nome acabou sendo feita de forma equivocada pelo tabelião.

Prata da casa Em Anápolis, a possível candidatura do presidente do BC ao governo estadual é motivo de comentários nas ruas. ¿Votaria nele tranquilamente. O Meirelles transmite confiança¿, diz o taxista Francisco Xavier da Costa, 52 anos. Apesar do conterrâneo ainda não ter oficializado a decisão de concorrer, Costa acredita que os acordos políticos já estejam fechados.

Roberto Alves, 36 anos, dono de uma banca de jornais, ainda não decidiu em quem votará. ¿O pessoal fala bem do Meirelles. A vantagem é que ele não tem desgaste nenhum, nunca foi político¿, reforça. Abrão Asmar, 42 engenheiro, afirma que se Meirelles vencer a corrida eleitoral Anápolis será beneficiada por uma terceira onda de desenvolvimento. Segundo ele, depois da instalação da Base Aérea e da construção do polo industrial, grandes empresas se sentiriam encorajadas a se fixar na cidade. ¿Ele vai trazer recursos para Anápolis. Uma coisa é outro sair por aí e pedir dinheiro. Outra coisa é ele fazer isso¿, resume.

No boletim escolar de Meirelles, as notas revelam que sua perfomance como estudando nem sempre foi a melhor

Escolha de partido vira uma equação

Goiânia ¿ Assediado por quase todos os partidos, Henrique Meirelles ainda avalia qual a melhor alternativa para se lançar candidato. Grupos que o apoiam divergem sobre qual opção o presidente do BC deve seguir. Uma corrente defende sua filiação imediata ao PP, do governador de Goiás Alcides Rodrigues. Outra frente tenta convencê-lo que a única saída é atrair o PMDB e formar uma chapa forte, que seja capaz de derrotar o tucano Marconi Perillo, ex-governador e atual senador.

O tabuleiro político goiano está desarrumado desde a visita de Lula ao estado. A declaração explícita de apoio a Meirelles em um evento organizado pelo prefeito de Goiânia, Íris Rezende (PMDB), provocou atritos em meio a uma delicada negociação que estava em curso. A composição entre as legendas em Goiás é peculiar: Lula apoia Rezende, mas quer Meirelles como governador. Ao mesmo tempo, o prefeito de Goiânia não abre mão da candidatura e já avisou isso a Lula.

As arestas precisam ser aparadas logo. A data-limite de filiação partidária está próxima e Meirelles sabe que quanto mais tempo demorar, mais difícil será para, no futuro próximo, tentar atrair aliados. Enquanto isso, os adversários do presidente do BC posicionam-se. ¿A economia conta, mas o que faz o candidato perfeito não é só isso. Se o Íris souber casar a política social com os investimentos será imbatível¿, justifica um experiente político de Goiás.

Tapete vermelho O PP está com tudo pronto para a festa de filiação de Henrique Meirelles ao partido. O deputado estadual Ozair José lembra que a legenda o quer a todo custo porque o presidente do BC é um homem ¿fácil¿ de se trabalhar politicamente. ¿É um nome de peso, sem rejeição alguma¿, completa. Na Assembleia Legislativa de Goiás, as negociações para a formação de blocos que disputarão o governo do estado correm em paralelo a polêmicas. A última delas, fortalecida também por causa das declarações de Lula em Goiás, diz respeito à criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar desvios na Celg, a companhia energética do estado. (LP)