Título: Bovespa cai 2% com temor dos EUA
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 03/08/2011, Economia, p. 21

Para analistas, acordo da dívida não ajuda economia. Dólar sobe 0,25%, a R$1,567

RIO e NOVA YORK. O temor de uma estagnação das economias americana e mundial mexeu ontem com os nervos dos investidores. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) voltou ao menor patamar desde setembro de 2009, acompanhando os principais mercados globais. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, perdeu 2,09%, aos 57.310 pontos, afetado pelas ações de exportadores de matérias-primas e bancos. Também refletindo o movimento externo, o dólar comercial avançou 0,25%, a R$1,567.

Nem o fim do impasse sobre a dívida americana trouxe alívio. Pelo contrário. Segundo analistas, o corte de gastos previsto no plano retira importantes estímulos em um momento de desaceleração da economia dos Estados Unidos.

- Existe um ditado que diz que é melhor um mau acordo que nenhum. Mas o mercado não concordou com isso - disse Álvaro Bandeira, diretor de Varejo da Ativa Corretora. - Cortar gastos no momento que a economia americana patina não vai ser um bom negócio.

O humor de investidores azedou logo na abertura dos mercados com a divulgação de fracos dados da economia americana, desta vez nos gastos de consumidores. O indicador recuou 0,2% em junho, a primeira queda desde setembro de 2009.

Uma das razões para a cautela dos consumidores é o elevado desemprego, hoje em 9,2%. E o acordo para elevar o teto da dívida não inclui a extensão do prazo de pagamento do seguro-desemprego, que expira no fim deste ano. Além disso, o governo se comprometeu a cortar gastos em um momento em que o crescimento da economia está lento demais para impedir a alta do desemprego.

O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caiu 2,19% e ficou abaixo dos 12 mil pontos. O Nasdaq perdeu 2,75%, enquanto o S&P 500 recuou 2,56%, acumulando queda de 0,29% no ano. O Dow caiu pelo oitavo pregão consecutivo, e o S&P, pelo sétimo - o que não ocorria desde outubro de 2008.

- Os investidores foram de Washington para o que chamo de realidade econômica - disse à agência Reuters Fred Dickson, diretor de estratégia da corretora The Davidson Cos.

Na Europa, o dia também foi de baixa nas bolsas de Londres (0,97%), Paris (1,82%) e Frankfurt (2,26%). Já o ouro, considerado um porto seguro, bateu novo recorde, a US$1.644 a onça-troy (31,1g).

Ações de bancos puxaram queda em São Paulo

Segundo operadores, as vendas se aceleraram no fim do pregão, em meio a rumores de que a agência Standard&Poor"s poderia reduzir a classificação de risco dos EUA após o fechamento do mercado, o que não se confirmou.

Para Felipe Casotti, gestor na Máxima Asset, o recuo da produção industrial brasileira aos menores níveis em dois anos também pesou. Ele explica que o Ibovespa perdeu ontem um importante resistência de perdas aos 57.660 pontos, o que pode desencadear novas quedas.

As perdas ontem no Ibovespa foram puxadas por instituições financeiras, após um balanço pior do que o esperado do Itaú Unibanco. Os papéis PN (preferenciais, sem voto) do banco caíram 5,80%, para R$ 29,58. Também recuaram as ações PN de Petrobras (1,40%, a R$23,17) e Vale (1,71%, a R$44,80).

No mercado de câmbio, a aprovação do acordo sobre o teto da dívida americana permitiu ao dólar manter seu status de porto seguro. E foi para a moeda que investidores correram ontem, em meio ao aumento de aversão a risco. O dólar avançou frente ao euro (0,33%) e ao dólar australiano (1,78%).

Segundo Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, a valorização do dólar frente ao real não foi maior por causa do baixo volume de negócios no mercado futuro de câmbio, reflexo das medidas do governo.

(*) Com agências internacionais