Título: Brasileiros vivem melhor
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 23/08/2009, Economia, p. 22

Pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro revela que 59% dos muncípios, em 2006, melhoraram as condições sociais da vida dos brasileiros em relação ao ano anterior

As condições de desenvolvimento social das cidades brasileiras melhoraram pouco de 2005 para 2006. Essa é a principal conclusão do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM). Dos 5.560 municípios analisados, 59% apresentaram índices melhores do que os de 2005. Quatro não enviaram informações: Figueirão (MS), Ipiranga do Norte (MT), Itanhangá (MT) e Aroeiras do Itaim (PI). Assim, em 3.295 municípios a população se beneficiou de avanços nas áreas de emprego e renda, educação e saúde. No total, o IFDM subiu de 0,7129 para 0,7376, aumento de 3,47%. Com isso, o estágio brasileiro permanece como desenvolvimento moderado, um nível abaixo do máximo possível, de alto desenvolvimento.

Brasília faz parte da minoria que registrou piora em seu índice ¿ caiu de 0,8290 para 0,8203. Essa redução de 1% foi o que bastou para fazer com que a cidade despencasse 29 posições no ranking dos municípios. A capital federal passou da colocação 129 para a 158. Quando são consideradas apenas as capitais, ainda assim o rebaixamento foi inevitável, descendo do quinto para o oitavo lugar. O fator decisivo para esse resultado foi a piora no indicador de educação, que apresentou queda de 4,7%. Em sentido oposto evoluíram as demais áreas: emprego e renda subiu 0,9% e saúde, 0,5%.

Diferença O que os números apontam, a bibliotecária Heliana Maria Dantas, moradora do Lago Norte, sente em seu dia a dia. ¿Quando eu me mudei para Brasília, em 1981, era uma cidade pequena, limpa, gostosa, tranquila e segura. Não tinha mendigo. Tinha pobreza, mas não se via miséria¿, conta. ¿Hoje é bem diferente.¿ A principal reclamação dessa amazonense é o trânsito. ¿As vias não têm estrutura para a quantidade de carros que estão circulando. Tanto que eu parei de almoçar em casa. Não dá mais tempo. Tem o engarrafamento e a busca por um local para estacionar. Não dá.¿ Mas a grande crítica de Heliana vai mesmo para a educação. Com uma filha recém-entrada na faculdade, ela conta que sentiu a queda na qualidade do ensino. ¿Brasília tinha algumas escolas públicas que eram referência. Hoje, vejo algumas abandonadas. Há alguns meses, fui a uma escola pública no Lago Norte e ela estava abandonada. Se no Lago Norte a escola está assim, imagine o que acontece por aí. O aluno nem tem vontade de estudar¿, diz ela.

Para o chefe da Divisão de Estudos Econômicos da Firjan, Patrick Carvalho, Brasília perde posições no ranking mais porque outros municípios tiveram avanços muito significativos nesses aspectos sociais em 2006 do que pelo recuo apresentado em seus próprios indicadores. Ele observa que, naquele ano, a capital do país registrou a criação líquida de pouco mais de 13.300 postos de trabalho e o aumento real de 11,7% na renda média mensal. Na saúde, há um aumento no percentual de mulheres que fazem o pré-natal se submetendo a mais de seis consultas (de 52,7% para 53,6%) e cai a taxa de óbitos de causas mal definidas (de 3,4% para 2,8%). Na educação, há um crescimento significativo de docentes com curso superior (80,1% para 86,9%). Mas a queda da taxa de matrícula na educação infantil, de 40,5%, em 2005, para 28,9% no ano seguinte, foi decisiva para a piora de Brasília

O economista da Firjan lembra que em 2006 foi aprovada uma lei aumentando o Ensino Fundamental para nove anos com a incorporação das crianças de seis anos, que deixaram a Educação Infantil. ¿Com isso, houve a redução do contingente de crianças na educação infantil. Esse indicador é um sinal de alerta para a sociedade, pois o novo modelo de desenvolvimento, refletido nesta alteração da legislação, requer a entrada de crianças cada vez mais novas na escola, o que acabou não acontecendo naquele momento¿, analisa Carvalho. ¿O resultado disso é que no Brasil como um todo houve um recuo na educação.¿

No Entorno, apenas sete evoluíram

Poucos municípios da Região do Entorno do Distrito Federal subiram no ranking do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) em relação à classificação que tinham no ano passado. Das 22 cidades da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF), apenas sete melhoraram suas posições, todas elas do estado de Goiás: Luziânia, Cabeceiras, Corumbá de Goiás, Pirenópolis, Alexânia, Cocalzinho de Goiás e Novo Gama. Outras duas ¿ Valparaíso de Goiás e Mimoso de Goiás ¿ embora tenham perdido espaço no ranking, ainda assim melhoraram seus índices IFDM, que pondera os resultados nas áreas de emprego e renda, educação e saúde.

A Ride foi criada em 1998 para facilitar a articulação das ações administrativas da União, dos estados de Goiás e de Minas Gerais e do Distrito Federal. Especialmente as questões relativas a infraestrutura, geração de empregos e capacitação profissional, abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto e serviço de limpeza pública, transportes e sistema viário, meio ambiente, saúde e assistência social, abastecimento alimentar, segurança pública etc.

O município que mais evoluiu em termos de desenvolvimento social foi Alexânia, com aumento de 8,6% em seu IFDM. Esse desempenho foi possível graças à área de emprego e renda, que subiu 65,3% em relação ao apurado em 2005. Esse indicador mede o comportamento do emprego formal e do salário médio mensal na cidade. Foi seguida por Valparaíso de Goiás, com aumento de 7,3% em seu índice IFDM. Embora o IFDM tenha subido, a cidade perde posição no ranking geral. Contribuíram para melhorar o desenvolvimento social de Valparaíso os segmentos de emprego e renda (+32,3%) e saúde (+5,2%). Por outro lado, a cidade que mais regrediu foi Cristalina.