Título: Parente em governo sempre cria problema
Autor: Jungblut, Cristiane; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 03/08/2011, O País, p. 10

Sarney, conhecido por nomear familiares, defende apuração

BRASÍLIA. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), defendeu ontem a apuração das denúncias feitas por Oscar Jucá Neto - irmão do líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR) - sobre um suposto esquema de corrupção no Ministério da Agricultura, hoje sob o comando de seu partido. Em seguida, Sarney acabou fazendo uma advertência aos colegas de legenda sobre os riscos de se indicar um parente para ocupar cargos no governo.

- Parente em governo sempre cria problema. Para o governo ou para o parente.

Experiência nessa seara não falta ao senador. Em 2009, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu o nepotismo em todas as esferas de poder, ele foi obrigado a determinar a demissão de vários parentes seus que vinham ocupando cargos comissionados no Senado. Entre eles estavam um de seus netos, duas sobrinhas e uma ex-nora. Isso sem falar no ex-namorado de uma neta e parentes de seus aliados políticos, como o ex-ministro Silas Rondeau. E o pior foi que parte dessas nomeações e demissões tinha sido feita por meio de atos secretos.

A despeito do constrangimento enfrentado por Romero Jucá por conta de seu irmão, que fez as denúncias de corrupção após ser demitido da Diretoria Financeira da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Sarney disse que o líder do governo conseguiu contornar a situação com seu pedido de desculpas à presidente Dilma Rousseff.

- Esse assunto me parece superado - acrescentou Sarney.

Jucá, por sua vez, repetiu o discurso contra as denúncias do irmão e anunciou que a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado deverá ouvir na próxima semana o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, para que ele dê explicações sobre as supostas irregularidades apontadas em sua pasta por Jucá Neto. Hoje, Rossi falará na Câmara.

- A questão (da denúncia) não é ser da família. A questão é que ficou uma situação ruim. Eu não aprovo a atitude do meu irmão, já disse isso. Pedi desculpas à presidente, pedi desculpas ao ministro. Dou apoio ao ministro. Acho que o ministro está com a razão. E, portanto, cabe ao ministro prestar os esclarecimentos. É um assunto ruim de ser tratado, mas precisa ser tratado e foi tratado - afirmou Jucá.