Título: Inflação pode limitar políticas anticíclicas
Autor: Durão, Mariana
Fonte: O Globo, 07/08/2011, Economia, p. 35
Governo terá mais dificuldade em tomar medidas de estímulo
O Brasil não passaria incólume a um segundo mergulho recessivo da economia global, mas o grande peso do consumo doméstico no Produto Interno Bruto (PIB) reduziria o impacto do choque externo. A leitura de economistas é de que o país não corre o risco de recessão, mas apenas de uma desaceleração de seu crescimento. No entanto, a perspectiva de queda no preço internacional das commodities, principal item da pauta exportadora nacional preocupa.
- Precisamos desses dólares para fechar as contas externas, já que a tendência é que haja uma redução do ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED) e remessa de recursos de empresas para cobrir perdas das matrizes - diz Fabio Silveira da RC Consultores.
Carlos Langoni, ex-presidente do BC, lembra que a redução de preços de commodities pode até gerar alívio inflacionário e um efeito positivo no câmbio, mas tem um peso extremamente negativo para a atividade econômica, reduzindo empregos e produção. O cenário pode ser ainda pior caso o crescimento da China, maior compradora de minério e soja brasileiros, seja significativamente afetado pela retração na Europa e nos Estados Unidos, que na sexta-feira teve sua classificação rebaixada de "AAA" para "AA+" pela agência Standard&Poor"s.
Política fiscal é alvo de críticas
Para o economista-chefe da Gap Asset Management, Alexandre Maia, o atual quadro inflacionário pode ser um entrave à recuperação brasileira. Com uma inflação acumulada em 12 meses de 6,87%, o governo brasileiro terá mais dificuldade em conceder estímulos ao consumo com medidas como as de 2008, quando reduziu o IPI de produtos de linha branca e automóveis.
- Se o governo começar a abrir a torneira há um risco razoável de alta de preços, até porque a pressão causada pela alta do salário mínimo já está contratada em 2012. A munição está mais limitada - diz Maia.
Na lista de pontos fracos da economia nacional estão velhos conhecidos como a alta carga tributária, infraestrutura precária e parco investimento em inovação, que pesam contra a competitividade dos produtos brasileiros. A política fiscal também é alvo de críticas. Para Langoni, o governo está perdendo a chance de zerar o déficit nominal:
- Não estamos aprendendo a lição de Estados Unidos e Europa. Em lugar de medidas pontuais para conter o câmbio deveríamos aproveitar o período de crescimento e arrecadação para criar um colchão fiscal.
As recentes medidas de controle de capitais do Banco Central, como taxação de operações de derivativos, foram apontadas como possível entrave à atração de investidores na crise. (Mariana Durão)