Título: Humala toma posse entre a economia e o povo
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 28/07/2011, O Mundo, p. 30
Novo presidente do Peru tem desafio de manter pacto com setores que fizeram o país crescer enquanto combate miséria
LIMA. Militar nacionalista de esquerda, Ollanta Humala assume hoje a Presidência do Peru com um duplo desafio: manter o desenvolvimento econômico do país - o segundo que mais cresceu no ano passado, 10,7% - e cumprir as promessas que fez a amplos setores da população, na tentativa de uní-los em torno de sua controversa figura. Num país como o Peru, onde 34% da população ainda vivem na miséria, não será uma tarefa fácil para quem elevou as esperanças dos setores populares, enquanto se comprometeu implicitamente com grupos econômicos em manter o status quo. O resultado deve ser uma boa dose de pressão sobre o novo presidente.
- Haverá pressões tanto de cima, dos altos setores da sociedade, quanto dos setores populares - afirma o analista político Santiago Pedraglio.
A própria formação do governo de Humala - que pende para o centro - leva em conta essa dificuldade, e já adota o discurso de união política. Humala manteve no comando da economia dois remanescentes do predecessor governo Alan García: Luis Castilla, vice-ministro da Economia, vai comandar a pasta, e Juan Vilarde permanecerá na presidência do Banco Central. Por outro lado, o novo presidente do Congresso, Daniel Abugattas, é aliado de Humala.
Governistas prometem não hostilizar novo presidente
Apesar das incertezas sobre qual faceta de Humala vai prevalecer em seu mandato - mais ligado aos presidentes bolivarianos, como em 2006, ou mais centrista - o clima em Lima é de festa, com as ruas enfeitada com bandeiras do país. Pelo menos 14 chefes de Estado devem comparecer à posse, entre eles, a presidente Dilma Rousseff. Mas o presidente Alan García ameaçou estragar a cerimônia: disse que não entregaria a faixa presidencial a Humala no Congresso, com medo de ser hostilizado, a exemplo do que aconteceu em 1990, quando passou o cargo para Alberto Fujimori.
Os governistas, no entanto, prometeram não fazer atos de hostilidade, e García deve ir ao Congresso. Com apenas quatro das 130 cadeiras na Casa e um índice de aprovação de 50%, García promete percorrer o país para recuperar o poder de seu partido, Aliança Popular Revolucionária da América, e voltar ao governo em cinco anos.
A inclusão social e o combate à corrupção são as principais cobranças da população em relação ao governo Humala. Os peruanos esperam que Humala cumpra as promessas de campanha, seja duro com o desvio do dinheiro público e coloque na cadeia os corruptos.
- Esperamos mudanças, que ele cumpra o que disse, e os corruptos sejam realmente presos. Também esperamos os programas sociais, a inclusão social. Falta dinheiro nas províncias. O que se espera é que cumpra o que prometeu - disse o motorista Jaime Martin, um limenho que já viveu em Angola e arrisca um português.
Ao que tudo indica, o programa social de Humala receberá ajuda do Brasil. A ideia do governo de Dilma, com quem Humala se reuniu três dias após a eleição, é oferecer a experiência do cadastro único do Bolsa Família, do combate à desnutrição e do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida para evitar os atuais problemas dos programas peruanos de corrupção e duplicação de beneficiários. A inclusão social deverá ser o centro da mensagem do presidente e estará no plano macroeconômico dos próximos três anos.
Com agências internacionais