Título: Eles pensam em não voltar
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 24/08/2009, Política, p. 3

Cresce o grupo de parlamentares que cogitam não concorrer em 2010. Entre os motivos, destaca-se o desgaste de imagem

Líder do PPS, Fernando Coruja estaria desiludido com a política

Rose Brasil/Esp. CB/D.A Press - 12/9/05 Estado de saúde pode afastar a deputada Nice Lobão das urnas

A pouco mais de um ano para as eleições de 2010, poucos parlamentares têm admitido abrir mão da corrida por um novo mandato. Motivos variados são alegados pelos possíveis desistentes. Entre doenças e desilusões com a política, há ainda a preocupação com a própria biografia. O deputado Pedro Henry (PP-MT), por exemplo, tem dito a correligionários que não está disposto a enfrentar mais uma disputa. É que depois de ter sido denunciado em dois grandes escândalos que investigam desvio de dinheiro público (mensalão e sanguessugas), o parlamentar perdeu votos em 2006, após ser líder nas urnas no pleito de 2002. De acordo com seus aliados, Henry teme perder o páreo por conta do seu desgaste com a Justiça e com a opinião pública.

Para sair da vida política sem precisar necessariamente se distanciar do poder, o deputado do PP estuda nomes de prefeitos das regiões onde ainda tem um eleitorado considerável para apoiar como seu sucessor na Câmara. O plano A seria seu irmão Ricardo Henry, mas este foi cassado pela Justiça Eleitoral depois de reeleger-se prefeito da cidade de Cáceres (MT). Sobre a possibilidade de concorrer no próximo ano, o deputado é econômico nas palavras. ¿Ainda estou analisando cenários e não sei mesmo se sairei candidato.¿

Nelson Trad (PMDB-MS) também não pretende enfrentar as urnas em 2010. Aos 78 anos, o deputado federal quer passar o bastão para o filho Fábio Trad, que preside a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Mato Grosso do Sul, mas tem sofrido grande resistência para se eleger novamente ao cargo. A saída do pai e a entrada do filho na disputa não apenas pretendem garantir a vida pública de Fábio, mas são uma tentativa de a família assegurar participação no cenário de política nacional. ¿Estou cansado dessa vida corrida. Tive uns problemas de saúde recentemente e acho que me falta disposição para enfrentar uma campanha. Por isso, meu plano é lançar meu filho. Somente se alguma coisa der errado é que não faremos isso¿, diz Trad, o pai.

Saúde Esposa do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), a deputada Nice Lobão (DEM-MA) também deve desistir da disputa de 2010 por falta de disposição para enfrentar a campanha. De atestado médico há cinco meses, a parlamentar tem se ausentado do plenário. ¿Nossa preocupação é com a saúde dela. Problemas de coluna fizeram com que ela precisasse se distanciar da política no último ano para se tratar. Por isso, achamos que ela não sairá candidata novamente. Estamos discutindo isso com nosso grupo político¿, conta o senador Lobão Filho (PMDB-MA).

Como ocorre sempre que uma crise ética assola o Congresso, também há os deputados que, pelos corredores, fazem discursos de decepção com a política e ameaçam retomar a carreira profissional e se aproximar mais da família. Desta vez, essa cantilena é entoada, entre outros, pelo líder do PPS na Câmara, Fernando Coruja (SC). Ele acaba de concluir o curso de doutorado e tem dito a colegas que, em 2010, pretende se dedicar mais à medicina e, por isso, não planeja continuar como deputado. Mas as ameaças não devem se concretizar, de acordo com integrantes do PPS. O presidente da legenda, Roberto Freire, já conversou com o parlamentar, fez as contas de votos para uma possível reeleição e, ao que tudo indica, Coruja em breve mudará o discurso.

Em outras legislaturas, coube a deputados como Osmar Serraglio (PMDB-PR) e a senadores como Magno Malta (PR-ES) e Pedro Simon (PMDB-RS) a promessa de desistir da política. Todos, no entanto, continuam com mandatos. O poder vicia.

Sem perspectiva de trégua

Daniela Lima

O início desta semana será marcado pela tentativa da base governista de colocar um ponto final na crise que assola o Senado desde o início do ano. A intenção é marcar uma reunião de líderes para amanhã e definir a votação, em plenário e nas comissões, de temas que são consenso na Casa. O problema será convencer a oposição a participar da empreitada. DEM e PSDB prometem reunião solo para decidir o que estão dispostos a votar. De resto, acrescentam, não colaborarão para que os holofotes se voltem para projetos e deixem de lado a permanência de José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado.

A oposição investirá energia no projeto que pede a extinção do Conselho de Ética do Senado, em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Amanhã, o DEM reúne seus integrantes para discutir proposta do líder José Agripino Maia (RN) para que a bancada se retire do colegiado. ¿Esta semana não será de definição de pauta. Será a semana de definição do Conselho de Ética. Esse conselho, como existe hoje, é a demonstração escrachada da tratoração da maioria. Não tem ética, não tem apuração¿, criticou Agripino Maia. ¿O retorno da calmaria ao Senado é imprevisível¿, acrescentou o líder, dando mostras de que não está disposto a colaborar com a estratégia da base aliada.

O governo, no entanto, escolherá entre os 46 itens da pauta aqueles que não contarem com resistência. Indicação de autoridades a cargos públicos, por exemplo, será tida como um bom começo. Para dar vazão à teoria de que quer arrefecer os ânimos no plenário, PT e PMDB terão de se entender. Portanto, a semana também será de ajustes para as desgastadas relações entre os líderes Renan Calheiros (PMDB-AL) e Aloizio Mercadante (PT-SP). Os peemedebistas não ficaram satisfeitos com a atuação de Mercadante durante a crise. Até a permanência do senador paulista no cargo virou alvo de críticas. Mercadante foi tachado de egoísta e de político com o qual não se pode fazer acordos. O petista retruca. E diz empunhar a bandeira história do PT em defesa da ética. Bandeira que tremulava pelo menos quando a legenda estava na oposição.

Armistício Enquanto a paz não é selada na base, os governistas passarão a usar interlocutores para acertar a pauta de votações. A líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC), e o senador Delcídio Amaral (PT-MS) foram escolhidos pelo grupo de Renan para fazer o meio campo entre petistas e os aliados de José Sarney. Ideli e Delcídio se mostraram firmes na defesa do presidente do Senado, seguindo a orientação do Planalto, desde o início da crise e ganharam pontos com a maioria do PMDB. ¿Eles assumiram o desgaste e seguraram a onda. Ninguém gosta de quem não tem posição¿, disse um dos generais do exército de Sarney.

Mercadante precisará do apoio de Lula para reconstruir relações que admitiu estarem estremecidas em seu discurso na última sexta-feira, quando desistiu de renunciar à liderança petista. O presidente da República atuará dentro da bancada petista a fim de restabelecer a correlação de forças entre os representantes do PT no Senado.