Título: Não é ele (Rossi) que está em questão
Autor: Brígido, Carolina; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 09/08/2011, O País, p. 3

Dilma volta a defender ministro. Oposição pressiona por tratamento igual ao dado ao PR

Luiza Damé, Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Em uma manifestação pública de solidariedade ao PMDB e ao vice-presidente Michel Temer, a presidente Dilma Rousseff declarou ontem que o governo tem confiança no ministro da Agricultura, Wagner Rossi. O Ministério da Agricultura foi alvo de denúncias de desvio de recursos públicos que já derrubaram o secretário-executivo da pasta, Milton Ortolan, amigo de Rossi há 25 anos. A declaração da presidente foi fruto de um cálculo pragmático feito pelo Palácio do Planalto: a queda de Rossi atingiria Temer, seu padrinho político, e poderia gerar uma crise maior. E, ao proteger o PMDB, o PT também seria protegido de uma possível revanche.

- O governo não tem nenhuma razão para ter qualquer preocupação em relação ao ministro Wagner Rossi. Não é ele que está em questão. Ele tomou as providências. Estamos, sem sombra de dúvida, reiterando a confiança no Wagner Rossi - disse Dilma, após o encontro com o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper.

Dilma foi informada de que, se a insatisfação dos aliados crescer, ministros petistas poderão ser convocados para depor no Congresso - por isso a estratégia de amenizar o desgaste do PMDB. A própria Dilma agiu no fim de semana para minimizar a crise, e, apesar das negativas oficiais, conversou por telefone com Rossi e Temer.

Apesar do apoio público dado pela presidente, a cúpula peemedebista não conseguia disfarçar a apreensão com a possibilidade do surgimento de novas denúncias no ministério e com o depoimento de Rossi amanhã no Senado. Temer, que se reuniu com a cúpula do PMDB domingo à noite, no Palácio do Jaburu, teria nova reunião ontem à noite com seus correligionários. O objetivo era traçar uma estratégia de ação para o novo depoimento de Rossi e para a reação a eventuais novas denúncias.

Ao longo do dia, parte da cúpula peemedebista tentou demonstrar tranquilidade e confiança em Rossi. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), minimizou as novas denúncias de corrupção na Agricultura.

- Acho que nenhum ministério está isento de investigação e, desde que encontrem os responsáveis, eles devem ser punidos. O ministro está tomando as providências que ele acha necessárias - afirmou Sarney.

Presidente interino do PMDB, o senador Valdir Raupp (RO) seguiu a mesma linha de Sarney:

- O que tinha de ser feito já foi feito. Agora, vamos aguardar o novo depoimento do ministro, que, certamente, dará todas as explicações que acharmos necessárias.

Blairo Maggi: "As denúncias de agora têm nome, endereço e CPF"

O PMDB, no entanto, sabe que precisa se preparar para as pressões da oposição, e até da base governista, para que Dilma dê ao partido o mesmo tratamento dispensado ao PR na crise do Ministério dos Transportes. O senador Blairo Maggi (PR-MS), por exemplo, disse ontem que considera as denúncias que atingiram o Ministério da Agricultura muito mais consistentes e cobrou uma atitude diferente do governo:

- As denúncias dos Transportes não tinham conteúdo. As denúncias de agora têm nome, endereço e CPF, ou seja, muito mais embasamento. Até acho que o governo errou na mão quando lidou com a crise nos Transportes, mas esperamos um tratamento igual aos demais partidos que estão sendo alvo de denúncias, como o PMDB e o PP, para que a presidente não seja acusada de usar dois pesos e duas medidas - afirmou Blairo. - Esperamos, agora, também o afastamento de todos os citados.

Para amenizar críticas de que Dilma recuou em sua faxina, assessores palacianos argumentaram ontem que, diferentemente do que ocorreu com o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, não surgiu uma denúncia concreta envolvendo Rossi. O governo se apega a dados, como o divulgado pelo GLOBO em 6 de julho, sobre a empresa do filho de Nascimento, que teve um grande crescimento patrimonial expressivo em dois anos. Além disso, Rossi deu esclarecimentos públicos, enquanto Alfredo Nascimento resistiu a conceder entrevistas para se explicar.