Título: Renda fixa e DI, refúgios para a turbulência
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 08/08/2011, Economia, p. 23

Com estresse nos mercados, a hora é de buscar opções conservadoras e evitar a Bolsa, dizem especialistas

FLÁVIO LEMOS, diretor da Trader Brasil Escola de Investidores, não recomenda entrar na Bolsa agora: ¿Não se pega uma faca caindo de ponta no chão¿

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A semana passada terminou como a pior para os mercados internacionais desde a crise de 2008 e o investidor se pergunta o que fazer com suas aplicações. Especialistas citam as opções mais conservadoras ¿ fundos DI e de renda fixa e até a poupança ¿ como a saída para tempos de turbulência. Porém, é hora de manter a calma, mesmo diante do momento de pânico, agravado pelo rebaixamento do rating da dívida pública americana na sexta-feira.

Os investidores começaram a reagir antes mesmo deste turbulento início de agosto. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os fundos de renda fixa captaram R$2,1 bilhões em julho, enquanto os fundos multimercados, que aplicam parte dos recursos em ações, saíram R$4,2 bilhões.

Para quem tem dinheiro na Bolsa e não precisa dele logo, a recomendação é esperar. Para quem não aplica em ações, principalmente os mais inexperientes, é hora de evitar a Bolsa.

¿ Não se pega uma faca caindo de ponta no chão ¿ compara Flávio Lemos, diretor Trader Brasil Escola de Investidores.

Para Lemos, o investidor só deve aplicar em ações com planejamento e conhecimento do mercado.

Na avaliação de Fábio Gallo Garcia, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), se o investidor que não tem uma estratégia para ciclos de baixa ¿ como um cálculo de até quanto pode perder, para estancar o prejuízo antes ¿ deve esperar.

¿ A solução é tentar aguentar, desde que o dinheiro não seja necessário de imediato.

Diversificar pode ser a melhor alternativa

Para quem vai continuar juntando dinheiro, e quer proteger-se da crise, o melhor é direcionar os recursos para fundos DI (compostos por títulos públicos e privados pós-fixados) ou de renda fixa (prefixados). Os pós-fixados tendem a seguir as variações da taxa básica de juros (Selic), aumentando a rentabilidade quando ela está em ciclos de alta, como ocorre desde 2010. Já os prefixados têm remuneração fixa e sua rentabilidade aumenta quando a Selic cai.

Especialistas se dividem sobre qual das duas alternativas é a mais indicada para a atual conjuntura. Uma das estratégias recomendadas é diversificar, aplicando nos dois tipos.

Para Lemos, da Trade Brasil, o melhor é evitar os fundos de prefixados, dada a perspectiva de aumento dos juros. A melhor opção para o curto prazo seriam os títulos pós-fixados.

Já a professora de finanças da FGV do Rio Myrian Lund acrescenta que a escolha depende da aposta do investidor: atualmente, a Selic está alta, mas, numa perspectiva de longo prazo, acima de dois anos, há espaço para a taxa cair.

Fábio Gallo Garcia destaca que os fundos de prefixados levam em conta uma aposta em variáveis econômicas e, por isso, são um poucos mais arriscados ¿ embora o risco seja o de ter menos rentabilidade.

Já para o professor de finanças do Ibmec/RJ Marcos Heringer, o ideal é diversificar. Aplicando em diferentes opções, o investidor se protege contra eventuais perdas numa delas com os ganhos maiores na outra.

¿ A composição entre as diversas opções depende do perfil de cada investidor.

Para aplicar apenas em títulos da dívida pública federal, o Tesouro Direto oferece ao investidor a possibilidade de compor seu próprio ¿fundo¿, escolhendo cada tipo de papel. Além de prefixados e pós-fixados, os títulos têm diferentes prazos. A principal vantagem, dizem especialistas, é pagar taxas de administração menores do que nos fundos.

¿ Não vale a pena pagar as taxas de administração ¿ opina Myrian Lund, citando os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) como outra alternativa.

Nesse caso, porém, é preciso buscar aplicações próximas a 100% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário, média da taxa dos empréstimos entre os bancos).

Segura, poupança é a opção mais simples

Tida como um dos investimentos mais seguros, a poupança tende a ter rentabilidade menor do que os fundos DI e de renda fixa. No entanto, ainda é indicada para quem tem pouco conhecimento do mercado e quer uma opção mais simples.

Os imóveis, outro investimento tradicionalmente considerado seguro, está fora das recomendações.

¿ Está na hora de vender imóveis, pois os preços estão muito altos ¿ diz William Eid Jr., do Centro de Estudos em Finanças da FGV-SP.