Título: Oriente Médio: bolsas desabam
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 08/08/2011, Economia, p. 19

Pregão em Tel Aviv chegou a ser suspenso. Queda foi de 6,99%

TEL AVIV. A crise deflagrada com o rebaixamento dos EUA atravessou o Atlântico e o Mediterrâneo e desaguou como um tsunami no Oriente Médio. A Bolsa de Valores de Tel Aviv, que funciona domingo - dia útil em Israel - fechou em queda de 6,99%, num dos pregões mais dramáticos dos últimos três anos. Foi só o pregão abrir para que fosse registrada perda de 5%. As negociações chegaram a ser suspensas algumas vezes, mas não evitaram a queda da Taxa Maof, que mede a performance das 25 maiores empresas do país.

A última vez que a bolsa israelense registrou queda semelhante foi na crise econômica de 2008. No dia 21 de setembro daquele ano, o mecanismo do circuit breaker suspendeu a compra de venda de ações assim que a queda superou os 12%. O ministro das Finanças do país, Yuval Shteinitz, afirmou que o rebaixamento "é uma luz vermelha" para relembrar o fato de que a economia mundial continua passando por uma turbulência.

- O rebaixamento dos EUA coloca mais óleo na fogueira da histeria e do pânico dos mercados - opina Eldad Tamir, diretor da financeira Tamir Fischman, uma das maiores do país. - Os papéis americanos têm subido nos últimos tempos de maneira radical porque representam um porto seguro do mundo. Mesmo que esse lugar seja um pouco menos seguro hoje, ainda é o mais seguro do mundo.

O governo de Israel encara manifestações há mais de um mês. No sábado, mais de 300 mil manifestantes foram às ruas das principais cidades para protestar contra a alta no custo de vida, em especial os preços de aluguéis e imóveis.

Há três semanas, milhares de ativistas acampam na Avenida Rotschild, no centro de Tel Aviv, pedindo educação gratuita a partir dos três meses de idade (hoje é apenas a partir dos três anos), aumento de salários e menos impostos. Eles se dizem inspirados nos "indignados" da Espanha e nos jovens que deram origem à "Primavera Árabe" - a série de revoltas populares que já derrubaram alguns dos principais ditadores da região. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu mudança profundas na economia, mas avisou que não vai poder agradar todo mundo.

Outros países do Oriente Médio sentiram o peso do rebaixamento do status dos papéis americanos. A bolsa da Arábia Saudita, a maior da região, viveu um fim de semana dramático. Única a abrir no sábado, caiu 5,45%. Ontem, registou mais uma queda, mesmo que mais branda, de 0,08%. O Índice DFM, de Dubai, caiu 3,7% e a bolsa de Abu Dhabi, 2,5%. As bolsas do Egito, do Qatar e de Oman também sofreram com quedas de mais de 4%.

- Neste momento, é difícil prever quando os mercados vão se recuperar - disse Saleem Khokhar, do Banco Nacional de Abu Dhabi.