Título: Kadafi quer aliança com islamistas
Autor: Lage, Janaina
Fonte: O Globo, 05/08/2011, O Mundo, p. 31
Medida faz parte da estratégia de explorar divergências entre rebeldes
GAROTO EM frente a uma escola destruída na cidade de Zliten: rebeldes tentam chegar novamente a Trípoli
TRÍPOLI. Em uma nova etapa da estratégia de Muamar Kadafi de explorar as divergências entre os rebeldes que há seis meses tentam derrubar seu governo, o filho do ditador líbio anunciou estar prestes a definir os termos de uma aliança com islamistas radicais integrantes do movimento de opositores ao regime. Em entrevista ao ¿New York Times¿, Saif al-Islam Kadafi chamou os militantes islâmicos de ¿terroristas¿, disse que não confia neles, mas alegou necessitar fechar o acordo.
O líder islamista identificado pelo filho de Kadafi como negociador confirmou os contatos, mas negou qualquer sugestão de aliança. Ele reiterou que os militantes islâmicos líbios apoiam as reivindicações de rebeldes por uma democracia pluralista, sem a presença da família Kadafi. A frágil unidade entre os rebeldes ¿ que já conquistaram reconhecimento de potências ocidentais e recursos para financiar a ofensiva ¿ passou a ser questionada ainda mais após o assassinato, em condições ainda não explicadas, do comandante militar do grupo, o general Abdel Fattah Younes.
Saif al-Islam disse que um comunicado conjunto deverá ser divulgado em breve. O gesto representa uma ruptura em relação ao histórico do governo do ditador, que reprimiu islamistas ao longo dos seus 41 anos no poder.
¿ Nós vamos fazer isso juntos. A Líbia vai parecer com a Arábia Saudita, com o Irã. E daí? ¿ disse. ¿ São terroristas. São sangrentos. Não são legais. Mas você tem que aceitá-los.
O anúncio de uma potencial aliança ocorre no momento em que os rebeldes se preparam para uma nova tentativa de assumir o controle da capital até o fim do Ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos. Segundo Muktar al-Akhdar, comandante dos rebeldes, a ocupação da região montanhosa de Nafusa, no oeste do país, representa uma oportunidade real de chegar até Trípoli. Mas as dificuldades incluem minas terrestres, falta de combustíveis e o receio de que simpatizantes de Kadafi tenham se infiltrado entre os combatentes. Ontem, rebeldes interceptaram um carregamento do governo com mais de 30 mil toneladas de gasolina. O navio foi levado para o porto de Benghazi.