Título: Governo sírio ignora condenação da ONU
Autor: Lage, Janaina
Fonte: O Globo, 05/08/2011, O Mundo, p. 31

Regime mantém ataques contra Hama, foco de resistência que enfrenta falta de água, luz, telefone e comida

MANIFESTANTES SÍRIOS marcham e cantam em Kfar Nabel em solidariedade aos moradores de Hama, cidade que desde domingo é ocupada por forças de segurança do governo Assad

janaina.lage@oglobo.com.br

RIO e DAMASCO. Um dia depois de o Conselho de Segurança da ONU divulgar uma declaração presidencial condenando a violência na Síria, as forças do ditador Bashar al-Assad mantiveram o cerco à cidade de Hama, principal foco de resistência ao governo, sob ataque desde domingo. Num sinal de agravamento do conflito, não havia ontem novas imagens da cidade, que está sem luz, telefone, internet e que já enfrenta escassez de água e comida.

Segundo o relato de moradores, forças de segurança do governo atiram a esmo e alguns residentes estão enterrando os mortos no próprio quintal, com receio de não conseguir chegar ao cemitério. Desde domingo, véspera do início do Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos, o governo intensificou a repressão com a entrada de tanques e atiradores. O número de mortos na ofensiva já ultrapassaria os 200. Cerca de mil famílias deixaram Hama nos últimos dois dias, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos. Em outras partes do país, ativistas dizem que pelo menos sete pessoas foram mortas ontem.

A única reação do governo ao repúdio internacional à violência no país foi a aprovação de decretos legislativos que permitem a criação de partidos políticos além do Baath. Os novos grupos poderiam disputar vagas no Parlamento e em conselhos locais. Mas as medidas chegaram tarde demais na avaliação da oposição, que classifica o gesto como tática de manobra e insiste na mudança do regime.

Hillary: Assad é responsável por mais de 2 mil mortes

Antigos aliados do governo Assad começam a rever posições com o aumento do número de mortos em confronto. O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, instou o ditador a conduzir reformas sob o risco de ter ¿um triste destino¿, caso fracasse. A resistência russa a endossar uma condenação mais rígida contra Assad foi um dos fatores que impediram a aprovação de uma resolução no Conselho de Segurança da ONU, com a previsão de sanções.

A União Europeia concordou ontem em impor novas restrições ao país, mas evitou aplicar penalidades aos setores bancário e de petróleo. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, pedirá às Nações Unidas que designem um enviado especial para a Síria a fim de negociar as exigências do Conselho de Segurança.

Em teleconferência, Elliot Abrams, do Council on Foreign Relations, defendeu o embargo ao óleo sírio como uma forma de reduzir a receita do governo:

¿ As sanções europeias são válidas para tornar párias os aliados do governo, mas elas não vão acabar com o regime. A produção de petróleo da Síria é pequena, mas importante para o governo. O que há é uma falta de liderança que impede a adoção de medidas mais rígidas.

Para Robert Danin, especialista em Oriente Médio do mesmo órgão, a escalada de violência na Síria está dificultando o apoio de antigos aliados. Ele classificou a declaração do Conselho de Segurança como fraca e destacou que ações punitivas deveriam incluir a recomendação do caso ao Tribunal Penal Internacional.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse ontem que o governo Assad é responsável por mais de 2 mil mortes durante a repressão aos protestos. Ela reiterou que, na visão dos EUA, o presidente perdeu legitimidade, e disse que o país e os aliados estão trabalhando em medidas para elevar a pressão sobre o regime sírio.

Com agências internacionais