Título: Retomada mundial foi postergada
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 05/08/2011, Economia, p. 23

MÔNICA BAUMGARTEM DE BOLLE

Apesar do pânico que tomou levou ao "derretimento" das bolsas ontem, a economista da PUC-Rio e diretora da Casa das Garças, Mônica Baumgartem de Bolle, não classifica o quadro como double dip (nova recessão em meio à recuperação). Para ela, as incertezas políticas na Europa e nos EUA postergarão a retomada global.

Mariana Durão mariana.durao@oglobo.com.br

Vivemos um "double dip"?

MÔNICA DE BOLLE: Não. Dois fatores tiraram a recuperação econômica dos trilhos este ano. A tsunami que parou a indústria japonesa e a alta de preços do petróleo, que poderia atingir o consumidor americano na veia. Esperava-se que isso passasse logo, mas a constatação de que Europa e Estados Unidos vivem uma crise política acabou prolongando o efeito desses choques. E prejudicou muito o cenário dos próximos meses. Não significa necessariamente que corremos o risco de uma nova recessão, mas sim que uma retomada substancial da economia mundial foi postergada.

Há uma reação exagerada?

MÔNICA: A reação dos mercados é típica do cego em tiroteio. A expectativa na virada do ano era de crescimento de 3% da economia americana, mas os dados do PIB mostraram que ela reagiu de forma anêmica. Não deve crescer mais de 2% e a economia global não chegará a 4%. Essa constatação, aliada ao desgaste sofrido por Obama e à falta de articulação política na Europa, levam a uma precificação muito forte.

Como esse cenário afeta o Brasil?

MÔNICA: A queda acentuada da Bovespa reflete um pouco altas exageradas no passado. A perspectiva de queda de preços de commodities afeta o Ibovespa, com muitas empresas do setor. Isso se soma a incertezas globais, medidas de controle de capitais do governo e aversão ao risco de emergentes. O freio da recuperação mundial tem efeito relativamente pequeno aqui. A desaceleração deve vir mais de questões internas, como medidas de contenção ao crédito e inflação.