Título: Deve ser ruim morar num lugar assim...
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 10/08/2011, O Mundo, p. 31

Brasileiras se assustam com madrugada de terror e toque de recolher informal

LONDRES e RIO. Quando a mineira Walquiria Felizardo desembarcou no Reino Unido, há quatro dias, para fazer mestrado na Universidade de Londres, não sabia que chegava à cidade no início de uma onda de violência que lhe parecia mais provável no Rio de Janeiro ou em São Paulo. De sua janela, em Bethnal Green, viu grupos de homens encapuzados gritando nas ruas, pouco antes dos ataques que ocorreram na madrugada de ontem, a 300 metros de seu apartamento.

¿ Espalhou-se o terror pela cidade. Não se fala em outra coisa pelas ruas, jornais, universidades ¿ diz Walquiria. ¿ Perto de casa, atacaram bancos, supermercados e lojas. Indo à universidade, vi as vidraças quebradas. Alguns ônibus pararam de circular, e o trânsito ficou complicado. Voltei para casa logo após o fim da aula, pois a polícia sugere que as pessoas fiquem em lugar seguro.

Morando há dois anos e meio em Londres, a escritora carioca Sylvia Morgado conta que o clima na capital britânica, à noite, chegou a ser de guerra, sem pedestres à vista, carros ou ônibus. Ela mora em South Hackney, perto de um parque onde ciclistas estavam sendo espancados e roubados. Por morar sobre um pub, a escritora e suas colegas de apartamento passaram horas acompanhando o noticiário, com medo de que grupos pudessem colocar fogo no estabelecimento.

¿ Ficamos assustadas quando a britânica que mora conosco saiu de casa, de mochila, chorando, dizendo que corríamos risco. Decidimos ficar em casa, pois já escurecia. Mas ficamos de malas prontas, com documentos dentro, em caso de precisarmos sair de emergência ¿ conta. ¿ Londres também tem suas áreas perigosas, mas ontem me senti refém. Era medo de sair e de estar em casa.

A advogada gaúcha Francine Mendonça também teve sua rotina afetada pela violência. A pedido da polícia, fechou seu escritório às 17h, duas horas antes do normal, uma decisão que também teve como objetivo permitir que trabalhadores vivendo em áreas mais periféricas voltassem para casa antes do anoitecer.

¿ Vi passarem seis camburões na rua, e logo depois veio o aviso. Estou preocupada com o que pode acontecer à noite, especialmente com as janelas do escritório, que acabei de reformar ¿ disse a advogada, tentando disfarçar a tensão. (F.D.)

COLABOROU: Renata Summa