Título: Chanceler turco sai de encontro de 6 horas com Assad de mãos vazias
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 10/08/2011, O Mundo, p. 31

Damasco reage à pressão de Ancara prometendo "perseguir terroristas"

DAMASCO e WASHINGTON. O plano era dar um ultimato para que o presidente da Síria, Bashar al-Assad, pusesse fim imediato às ações militares contra civis. Mas a visita do ministro das Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, a Damasco pôs o governo de Ancara sob uma enxurrada de críticas internas - e deixou exposta a dificuldade diplomática em lidar com o regime sírio. Apesar da ausência de resultados concretos, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Mark Toner, elogiou a tentativa de mediação turca. Segundo fontes da Casa Branca, o governo do presidente Barack Obama está, ainda, se preparando para pedir explicitamente que Assad deixe o poder - numa guinada da até agora cautelosa política adotada pelos EUA.

Ontem, enquanto Assad conversava com o chanceler do país vizinho e - pelo menos até bem pouco tempo atrás, aliado - o Exército da Síria levava adiante sua ofensiva contra manifestantes antigoverno na província de Idlib, na fronteira com a Turquia. Ativistas de direitos humanos afirmam que o número de mortos, somente ontem, chegou a pelo menos 22.

"A Síria não vai ser tolerante ao perseguir grupos terroristas armados para proteger sua estabilidade e seus cidadãos; como também está determinada a completar uma reforma ampla", afirmou o presidente sírio.

O encontro de Assad com Davutoglu durou seis horas - sendo três delas uma conversa privada entre os dois. Em vez do discurso ácido ouvido nos bastidores da diplomacia de Ancara, o chanceler adotou um tom vago ao retornar. Segundo o ministro, foram discutidos "passos concretos" para conter a violência. Ele acrescentou que a Turquia vai "monitorar as ações sírias nos próximos dias".

- Os passos dos próximos dias serão importantes. Esperamos medidas para acabar com o derramamento de sangue - desconversou o chanceler, afirmando ser "impossível detalhar seis horas de conversa".

A pressão diplomática será retomada hoje, quando uma delegação de representantes de Índia, Brasil e África do Sul se reunirá com o ministro sírio das Relações Exteriores, Walid al-Muallem. À frente da missão brasileira está o subsecretário para o Oriente Médio do Itamaraty, Paulo Cordeiro. O embaixador do Brasil na Síria, Edgard Casciano, preferiu não comentar os esforços turcos. Segundo ele, o objetivo do grupo é "apoiar a transição para um regime democrático, multipartidário e pluralista pelas vias do diálogo":

- É uma feliz coincidência que essas três grandes democracias estejam no Conselho de Segurança da ONU e possam contribuir. O presidente Assad já anunciou a nova lei de partidos e o compromisso de realizar eleições para um novo Parlamento até o fim do ano.