Título: Protestos e violência fazem governo chileno pedir reflexão a estudantes
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 10/08/2011, O Mundo, p. 31

Reformas na Educação mobilizam pelo menos 100 mil na capital

JOVENS PROTESTAM ao lado de um carro incinerado em Santiago

SANTIAGO. Diante de um protesto que reuniu, segundo os organizadores, pelo menos 100 mil pessoas nas ruas de Santiago (ou 60 mil, segundo a polícia), o governo do Chile se viu ontem forçado a chamar ao diálogo os manifestantes que exigem uma reforma no sistema de educação. Em alguns pontos da capital, grupos mascarados infiltrados na passeata incendiaram carros e levantaram barricadas, além de saquear lojas e atacar os policiais que faziam a segurança ¿ pressionando ainda mais o governo do presidente Sebastián Piñera, cujo índice de popularidade caiu a meros 26%. Segundo a polícia, até o fim do dia 273 manifestantes foram detidos e 23 policiais foram feridos. Às vésperas da aprovação do Orçamento para o próximo ano, o ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, pediu aos indignados chilenos que ¿reflitam e se sentem para trabalhar em projetos de lei¿ sobre o tema.

¿ Chegou a hora de refletirem sobre até que ponto vão continuar convocando marchas que não controlam. Os dirigentes (sindicais e estudantis) também têm responsabilidade ¿ cobrou Hinzpeter, referindo-se a confrontos que resultaram em violência nos arredores de Santiago e alguns pontos do centro da capital.

O protesto ¿ autorizado pelo governo, ao contrário de outros ¿ teve início na Universidade do Chile e ganhou o apoio de centrais sindicais. Segundo testemunhas, a situação se descontrolou quando um grupo de manifestantes encapuzados tentou atacar prédios públicos e privados em um calçadão no centro de Santiago. A polícia interveio e lançou jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo contra o grupo ¿ que também foi repreendido por outros estudantes.

Estudantes dão prazo até hoje para ofertas do governo

Em alguns trechos da capital, os mascarados chegaram a jogar pedras, tinta e móveis contra a polícia. Sinais de trânsito foram arrancados e a tropa de choque recorreu a blindados para dispersar o bando. O prefeito de Santiago, Pablo Zalaquett, minimizou os incidentes, lembrando que o grupo de arruaceiros ¿era formado por cerca de 200 pessoas, frente às cerca de 60 mil que participam do ato estudantil¿.

¿ O objetivo hoje foi cumprido. Se o governo não é capaz de dar uma resposta às nossas demandas, teremos que apelar a outra solução: um plebiscito que decida qual deve ser o futuro da educação no país ¿ ameaçou a líder estudantil Camila Vallejo, uma das responsáveis pelas manifestações que se arrastam há dois meses no país.

Apesar da violência, os estudantes comemoram a manifestação e deram, ainda, um prazo ¿ até as 21h de hoje ¿ para o governo agir. Os protestos também mobilizaram 40 mil pessoas em outras cidades, como Valparaíso, Talca, Concepción, Valdivia e Puerto Montt ¿ onde quatro estudantes foram intoxicados por gás lacrimogêneo num confronto com a polícia.