Título: Risco maior para o Brasil
Autor: Barbosa, Flávia; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 10/08/2011, Economia, p. 26

ROBERT WOOD

Robert Wood, economista sênior para América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU), fala dos riscos de uma nova crise para Brasil e América Latina. Embora avalie que as perspectivas são favoráveis para o Brasil no médio prazo, o braço de pesquisa da "The Economist" estuda retirar a perspectiva positiva de sua classificação de risco para o país (hoje BB+) por avaliar que não há um ajuste fiscal de longo prazo em curso.

Como a EIU avalia o Brasil hoje?

ROBERT WOOD: Pelos nossos critérios, o país não é grau de investimento. Nosso modelo dá peso grande à relação dívida/PIB, que superou 50% em 2010. Em fevereiro, incluímos a perspectiva positiva BB+ após o ajuste fiscal anunciado (corte de R$50 bi no orçamento) mas pode não ser mantida. Há um certo cumprimento das metas fiscais, mas o superávit está baseado na arrecadação. Não é ajuste de longo prazo que gostaríamos.

Qual a grande diferença do quadro atual do país para o de 2008?

WOOD:Antes (da quebra) do Lehman a atividade estava super aquecida e a produção caiu drasticamente. Os empresários saíram e apagaram a luz. Agora não deve haver uma retração tão grande, porque a indústria já está devagar e as incertezas nos EUA e Europa já vinham no radar.

O fluxo de capitais para o país deve se retrair?

WOOD: O Banco Central aponta forte entrada de Investimento Direto no país. A não ser que a crise piore muito acho que esses fluxos devem continuar porque perspectiva de crescimento do país no longo prazo segue sólida.

A Bovespa tem caído mais que outras bolsas...

WOOD: Há reversão de uma certa euforia, reflexo de medidas para conter o câmbio em cenário de incerteza e inflação acima da meta. Mas a perspectiva ainda é favorável. Projetamos alta de 4% do PIB em 2011, com leve revisão para baixo. Ainda há motores para a economia.

Como uma nova crise afeta a América Latina?

WOOD: O México seria mais castigado pela maior ligação com a economia dos EUA. Para a América do Sul a pergunta é se a China, grande aliada da crise passada, continuará a crescer acima de 8% ao ano. Isso dá um "chão" a esses países.