Título: Primeiro leilão de títulos dos EUA tem forte procura, apesar de rebaixamento
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 10/08/2011, Economia, p. 23

Demanda superou oferta de US$32 bi em papéis com vencimento em 3 anos

NOVA YORK. Os Estados Unidos passaram no primeiro teste depois do rebaixamento da nota de crédito do país pela Standard & Poor"s. O Tesouro americano fez ontem um leilão de seus títulos, conhecidos como Treasuries, e a procura pelos papéis com vencimento três anos superou a oferta, de US$32 bilhões. Além disso, no mercado secundário (entre investidores), o anúncio do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), de que os juros permanecerão baixos até meados de 2013 fez o retorno dos títulos com vencimento em dez e dois anos atingirem mínimas recordes.

Quando cai o retorno oferecido por um determinado título significa que subiu a procura pelos papéis. A lógica é a seguinte: com a maior demanda, os investidores têm que pagar mais para conseguir comprar os títulos. Como o gasto é maior, mas a taxa paga pelo governo continua a mesma, cai o ganho total final, ou seja, o retorno do papel. Apesar de o rebaixamento da nota do país representar um alerta da S&P de que aumentou o risco de calote por parte do governo, os investidores ainda veem os papéis como um porto seguro em meio à crise nos mercados mundiais.

No leilão do Tesouro, o retorno dos papéis de três anos ficou em 0,50%, o menor patamar da série histórica, iniciada em maio de 1981. As projeções eram de 0,523%. Em leilão feito no mês passado, o retorno ficou em 0,67%. Já no mercado secundário, o retorno dos Treasuries de dez anos recuou 0,07 ponto percentual, para 2,24%. No papel de dois anos, a queda foi de 0,06 ponto percentual, para 0,20%. O de 30 anos recuou 0,01 ponto, para 3,65%.

- O mercado queria que o Fed admitisse que o cenário ficou mais fraco, e ele o fez - afirmou Priya Misra, diretora de Estratégia de Juros do Bank of America Merrill Lynch, um dos 20 bancos que participam dos leilões como operadores primários com o Fed.

O leilão de ontem foi o primeiro de uma série, no volume total de US$72 bilhões. Hoje será feita uma oferta de US$24 bilhões em títulos de dez anos e amanhã, uma de US$16 bilhões em papéis de 30 anos.

Os licitantes indiretos, uma categoria que inclui bancos centrais de outros países, adquiriram 47,9% dos papéis ontem, o maior volume desde maio de 2010. Nos últimos dez leilões, a média foi de 34%. Os licitantes diretos (investidores em geral) compraram 11,1% dos papéis, contra uma média de 13,2% nas dez últimas operações.

Segundo analistas, a Ásia e outros países detentores de Treasuries, como o Brasil, não têm muitas opções exceto continuar comprando os papéis para manter suas reservas.

- As opções viáveis são limitadas - disse Jun Ma, economista-chefe do Deutsche Bank na China. - Ou alguns mercados são muito pequenos ou esses mercados são mais arriscados do que o Tesouro americano.