Título: Depois da tempestade...
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 10/08/2011, Economia, p. 23

Após as fortes quedas da véspera, bolsas têm altas em EUA, Brasil e parte da Europa

Bruno Villas Bôas,Vinicius Neder e Fernando Eichenberg

Um dia após assombrar o mundo com fortes perdas provocadas pelo rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela agência Standard & Poor"s (S&P), os mercados internacionais viveram ontem um dia de recuperação e muita instabilidade. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) avançou 5,10%, aos 51.150 pontos pelo Ibovespa, recuperando parte das perdas do pregão anterior (8,08%). Foi a maior alta do índice desde 29 de outubro de 2009.

O alívio veio com Federal Reserve (Fed, banco central americano) indicando mais claramente que vai manter sua taxa básica de juros "excepcionalmente baixa" por um período mais prolongado - até meados de 2013. Em Wall Street, o Dow Jones avançou 3,98% e o Nasdaq, 5,29%. O índice S&P 500 subiu 3,98%, melhor desempenho em dois anos.

Investidores foram às compras logo na abertura dos mercados, atraídos por ações a preço de banana e movidos pela expectativa de que o Fed anuciasse um pacote de estímulo monetário para a economia dos EUA, após sua decisão sobre o os juros à tarde. A previsão acabou sendo frustrada.

Pela primeira vez, o Fed estabeleceu uma previsão específica de prazo para sua política de juros, medida percebida como uma tentativa de convencer os mercados de que sua estratégia não será alterada a curto prazo. Mas também pela primeira vez em duas décadas, o BC americano revelou divergências na votação. A decisão de manter a taxa de juros de zero a 0,25% ao ano - a mesma desde dezembro de 2008 - não foi unânime: sete integrantes votaram a favor, e três contra. Isso não acontece desde novembro de 1992, quando o Fed era ainda presidido por Alan Greenspan.

Com o comunicado, o Dow Jones operou, num período de apenas uma hora, entre uma alta de 1,85%, queda de 1,90% e uma nova alta de 1,58%, quando finalmente firmou sua trajetória de valorização. O Ibovespa acompanhou esse movimento, ainda que não tenha chegado a registrar perdas: de uma alta de 3,12%, desacelerou para ganhos de 0,20% e voltou a vançar a 3,68%.

- Houve uma grande briga no mercado entre os mais otimistas e pessimistas sobre a decisão. Mas prevaleceu quem viu bons sinais no comunicado do Fed - disse Luis Gustavo Pereira, da Um Investimentos.

Na Bovespa, essas movimento de alta foi puxado por investidores institucionais (bancos e grandes fundos) e estrangeiros. O mercado brasileiro teve assim a segunda maior valorização no mundo, atrás apenas da Bolsa do Chile (5,83%). Somente três dos 69 papéis que compõem o Ibovespa registraram perdas. Além da Marfrig, recuaram Duratex e Eletrobras. O volume financeiro chegou a R$10,394 bilhões, um dos maiores se desconsiderados dias de vencimento de opções.

- Foi um dia para ser muito comemorado, após um dia de queda intensa e muito acelerada na segunda-feira. O forte volume numa dia de alta foi bastante positivo - disse Álvaro Bandeira, diretor de varejo da Ativa Corretora.

Dólar avança 0,99% e vai a R$1,626

Os papéis que tiveram as maiores perdas nos últimos dias foram também os que mais se recuperaram ontem. As ações preferenciais da companhia aérea Gol dispararam numa alta de 17,76%, para R$10,74. A construtora PDG subiu 13,39%, a R$13,39 e a OGX Petróleo ganhou 12,61%, cotada a R$10,36. Uma das exceções foi a Marfrig, que caiu 0,33% depois de um tombo de 20,53%, afetado pelas fortes vendas de um fundo de investimentos.

Para Gustavo Mendonça, da Oren Investmentos, os sinais de desaceleração das economias americana e mundial, além dos problemas com a dívida de Espanha e Portugal, foram deixados temporariamente de lado. Mas isso pode durar apenas até a próxima notícia negativa. Mesmo com os fortes ganhos, o Ibovespa ainda acumula baixa de 13,04%, no mês, uma das maiores perdas pelo mundo.

- É muito cedo para tirar o colete salva-vidas - afirma Gustavo Mendonça, gestor da Oren Investimentos.

Ontem, o comunicado do Fed também apontou ainda um "aumento dos riscos para a economia" e um crescimento "consideravelmente mais lento do que o previsto". Em seu comunicado, o Fed disse prever "outras medidas para promover um crescimento econômico mais forte", sem no entanto detalhar quais seriam.

Na Europa, as bolsas fecharam ontem divididas: subiram Londres (1,89%) e Paris (1,63%). Já Frankfurt (0,10%) e Madri (0,36%) ficaram praticamente estáveis.

No mercado cambial, o dólar comercial fechou ontem em alta de 0,99%, a R$1,626, após chegar a operar em alta de 3,1%.

- O mercado esperava algo do Fed, mas eles não mexeram em nada - diz o gerente de câmbio da Fair Corretora, José Roberto Carreira.