Título: Pesos e medidas do combate à corrupção
Autor:
Fonte: O Globo, 10/08/2011, Opinião, p. 6

Mal foi concluída a rodada de faxina no Ministério dos Transportes/Dnit, próceres do PR, legenda ungida síndica plenipotenciária da Pasta pelo jeito fisiológico de governar do lulopetismo, passaram a reclamar de um suposto tratamento discriminatório pelo Planalto.

Oscar Jucá Neto, o Jucazinho, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), caiu da diretoria financeira da Conab, do Ministério da Agricultura, sob a acusação de desviar dinheiro do contribuinte para empresa da família. Atirou de volta com acusações contra o ministro Wagner Rossi (PMDB), do círculo de protegidos do peemedebista vice-presidente da República Michel Temer. Foi a senha para o PR resmungar em defesa de um comportamento isonômico na faxina ética. Se a cúpula dos Transportes/Dnit foi afastada quase liminarmente, por que Rossi teria blindagem especial?

Os movimentos do Planalto foram mesmo bem mais cautelosos no caso de Rossi, e a explicação é óbvia, nem por isso aceitável: o tamanho de cada bancada. Os sete senadores e 40 deputados do PR deixam a legenda mais vulnerável a faxinas deste tipo do que os 78 deputados e 20 senadores do PMDB. Mesmo que as suspeições sobre o Ministério da Agricultura tenham ficado mais densas com a revelação da revista "Veja" de que um lobista, Júlio Fróes, tinha trânsito livre na Comissão de Licitação da Pasta, por determinação do secretário executivo, Milton Ortolan, amigo de longa data de Wagner Rossi. Fróes teria chegado a redigir, no ministério, os termos da contratação, sem licitação, da Fundação São Paulo, a quem a PUC paulista é subordinada. O contrato recebeu a assinatura do ministro e, por uma dessas bizarrices do mundo brasiliense, quem subscreveu em nome da Fundasp foi o próprio Fróes. Há relatos de que, depois, ele distribuiu maços de dinheiro entre servidores. Ortolan entregou o cargo e Rossi deve estar hoje no Congresso, pela segunda vez, para dar explicações. Mas, como há dias, sob cerrada defesa do PMDB.

Se há mesmo intenção do Planalto de evitar problemas com o PMDB, o esforço terá de ser redobrado, depois de a Polícia Federal ter ido ontem à rua para executar 38 mandados de prisão, entre eles um do secretário executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva da Costa. Acima dele só o ministro, o maranhense Pedro Novais (PMDB), incluído na lista de indicados pelo senador José Sarney (PMDB-AP), mas que ontem garantia não ter avalizado o nome de Novais.

O motivo da blitz policial é um dos golpes clássicos contra o Erário, praticado por meio de emendas parlamentares, no caso, da deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP). Ao todo, R$15 milhões teriam ido parar numa entidade, sem as devidas prestações de contas, entre outros delitos. A defesa ensaiada ontem pelo PMDB foi tentar implicar o PT na história, com o argumento de que ela vem de 2009, quando havia assumido o ministério Luiz Barreto, secretário executivo de Marta Suplicy, desincompatibilizada para disputar vaga no Senado pelo PT paulista.

Não parece possível o governo aplicar, sem desgastes, a regra de pesos e medidas diferentes quando se trata de corrupção. Desvio ético não pode ser atenuado numa relação inversamente proporcional ao tamanho da bancada do autor do delito. O governo terminará dando razão ao PR.