Título: Atirador usou drogas antes de ação, e se diz em guerra
Autor:
Fonte: O Globo, 27/07/2011, O Mundo, p. 29

TERROR NA NORUEGA

OSLO

Responsável pela morte de 76 pessoas em dois ataques na última sexta-feira, o norueguês Anders Behring Breivik - que considera estar em uma "cruzada" contra o Partido Trabalhista, apontado por ele como responsável pela abertura do país à imigração - será defendido por um advogado filiado à legenda alvo dos atentados. Geir Lippestad foi contatado pela polícia no sábado e informado que Breivik o havia escolhido, sem explicar o motivo. Lippestad disse que não sabe se Breivik está ciente de sua orientação política.

- Acredito que o sistema legal é muito importante em uma democracia e alguém tem que fazer este trabalho - disse.

Lippestad é conhecido pela defesa de um extremista de direita condenado em 2002 a 17 anos de prisão pelo assassinato de um jovem, filho de um africano. O advogado relatou os encontros que teve com Breivik, que está sob vigilância contra suicídio, sem contato com outras visitas, jornais e revistas. O advogado o descreve como alguém "muito frio", que perguntou quantas pessoas matou, mas diz que é cedo para afirmar se alegará insanidade. Caso Breivik se recuse a fazer os exames médicos, o advogado pode deixar o caso.

- Todo o caso indica que ele é louco - disse. - Não posso descrevê-lo porque ele não é como qualquer um.

Favorável a ditaduras, o atirador se opõe à democracia e ao multiculturalismo. Lippestad acrescenta que ele se vê como "um guerreiro que iniciou uma guerra e se orgulha disso". Além disso, ele consumiu drogas para "ficar forte, ser eficiente e permanecer acordado" antes do ataque. O agressor deve ser acusado de crimes contra a Humanidade, com pena de até 30 anos de prisão, mais do que o máximo de 21 anos da lei antiterror. Subterfúgios da legislação local podem permitir que ele fique preso por mais tempo.

O assassino imaginava um desfecho breve para o caso, em que seria morto pela polícia. Imagens da prisão de Halden Fengsel, onde deve ficar, mostram um destino mais suave: cela com TVs de tela plana, frigobar e mobiliário moderno. Os guardas se movimentam desarmados e costumam comer com os detentos. A prisão conta com uma "cozinha-laboratório", onde os presidiários podem fazer cursos de culinária.

As informações do advogado não esclarecem se Breivik atuou sozinho nos ataques que vitimaram, além de noruegueses, imigrantes, descendentes e muçulmanos. Na primeira audiência, ele disse haver outras duas células no grupo ao qual está ligado e, ao advogado informou que elas estão na Noruega, além de várias outras fora do país. A polícia recebeu as informações com ceticismo e retirou controles de fronteira, mas não descarta a hipótese. Agentes também detonaram explosivos encontradas na fazenda do criminoso. Breivik esteve em contato com um grupo de extrema-direita britânico, a Liga de Defesa Britânica, que inicialmente negou vínculos. O líder da organização, Stephen Lennon, disse que as ações são um sinal da "raiva crescente" na Europa contra muçulmanos. Dos 1.003 emails enviados por Breivik com um manifesto antes do ataque, 250 foram para o Reino Unido.

Breivik vê Brasil como disfuncional

A Scotland Yard foi acionada para checar se Breivik esteve no Reino Unido em 2002 para se reunir com um grupo de "Cavaleiros Templários", dispostos a "defender a Europa da invasão islâmica". Até agora, não se sabe se o grupo existe ou se o encontro ocorreu. Testemunhas relataram à polícia, no entanto, a existência de um segundo atirador na ilha de Utoeya.

Ontem, o príncipe Haakon e o ministro de Relações Exteriores, Jonas Gahr Stoere, estiveram em uma cerimônia em homenagem às vítimas na mesquita da Missão Islâmica Mundial. O imã Najeeb ur Rehman Naz disse que o massacre uniu os noruegueses.

Em seu manifesto, o norueguês cita o Brasil como um país "de segundo mundo", com baixo nível de coesão social por conta da "revolução marxista brasileira", que, para ele, teria resultado em alto nível de corrupção, baixa produtividade e conflito cultural.

"As subtribos (preto, mulato, mestiço, branco) paralisam qualquer esperança de alcançar o nível de produtividade de Escandinávia, Alemanha, Coreia do Sul e Japão", diz. Para Breivik, países que "têm culturas que competem entre si acabam se dividindo internamente ou terminam como um lugar disfuncional como o Brasil".