Título: Brasil, ímã de investimentos
Autor: Justus, Paulo
Fonte: O Globo, 27/07/2011, Economia, p. 23

País salta 10 posições e passa a ser o 5º em ranking. Fluxo global cresce pela 1ª vez desde 2008

Os fluxos globais de investimento estrangeiro direto (produtivo) voltaram a crescer no ano passado, pela primeira vez desde a crise financeira de 2008. De acordo com dados divulgados ontem pela Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Comércio (Unctad, na sigla em inglês), o volume foi de US$1,24 trilhão, alta de 5% em relação a 2009. Com a entrada recorde de US$48,4 bilhões, 86,7% a mais que em 2009, o Brasil registrou o maior crescimento entre as economias desenvolvidas e os Bric (grupo de emergentes que inclui ainda Rússia, Índia e China). O país passou da 15ª para a quinta posição entre os maiores destinos de investimento direto no mundo, atrás de Estados Unidos, China, Hong Kong e Bélgica.

A entidade ressaltou que a retomada dos investimentos, no entanto, ainda é tímida e que o agravamento da crise fiscal nos países ricos e o risco de superaquecimento nos emergentes podem retardar uma recuperação mais efetiva. Para este ano, a previsão inicial da Unctad é de que o fluxo de investimentos produtivos fique entre US$1,4 bilhão e US$1,6 bilhão, perto do US$1,7 trilhão de 2008.

- A mensagem do relatório é que o investimento global é muito insosso, baseado em poucos setores e ligado a lucros reinvestidos pelas subsidiárias das multinacionais, que não é capital novo. E baseado em alguns países, como o Brasil. Os investidores estão olhando novos mercados que perderam durante a crise - disse Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), que divulga os dados da Unctad no Brasil.

Copa, Olimpíada e petróleo são atrativos

Diferentemente do que ocorreu no resto no mundo, no Brasil os setores de extrativismo mineral e serviços foram as principais fontes de atração do investimento estrangeiro em 2010, enquanto a indústria perdeu força.

- O crescimento do mercado de consumo do país, que deve adicionar 50 milhões de pessoas à classe C no período entre 2003 e 2014, foi um dos principais atrativos do investimento no Brasil, além de Copa do Mundo e Olimpíadas e das entradas de capital na exploração de petróleo - afirmou Lima. - No caso da indústria, esses números refletem uma perda de competitividade.

Pelos dados da Unctad, a participação brasileira entre os fluxos globais de investimento passou de 2,2% para 3,9%. Esse percentual tende a crescer este ano, segundo a Sobeet. Esta projeta que a entrada de capital estrangeiro some US$65 bilhões em 2011 e chegue a 4,3% dos fluxos mundiais de investimento, quase o dobro da fatia de 2009.

- No primeiro semestre do ano, já temos contabilizados US$30 bilhões e, no acumulado dos últimos 12 meses, esse valor chega a US$63 bilhões. Não vejo nenhuma dificuldade de chegarmos a este número até o fim do ano - afirmou Lima.

O Brasil aparece em quarto lugar na intenção de investimento das empresas transnacionais para o período de 2011 a 2013, atrás de China, EUA e Índia, segundo a Unctad. O estudo mostra ainda que 53% das multinacionais entrevistadas estão otimistas em relação ao ambiente de investimentos de 2013, contra 34% sobre o de 2011.

O relatório também menciona os investimentos brasileiros no exterior, com fluxo positivo de US$11,5 bilhões. Em 2009 estes ficaram negativos em US$10,1 bilhões, o que representa desinvestimentos. Mas ainda estão longe dos US$20,5 bilhões de 2008.

Segundo o estudo, as transnacionais latino-americanas aumentaram seus investimentos no exterior, em especial nas economias desenvolvidas, onde surgiram oportunidades de investimento após a crise. São citadas as brasileiras Vale, Gerdau, Camargo Corrêa, Votorantim, Petrobras e Braskem, que compraram empresas de minério de ferro, alimento, aço, cimento, química e refinarias nos países ricos.

Lima diz ainda que companhias de Tecnologia de Informação latino-americanas passaram a investir nos vizinhos, para atender às pequenas e médias empresas, deixadas de lado pelas grandes multinacionais.