Título: Petrobras tenta recuperar confiança
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Fonte: O Globo, 27/07/2011, Opinião, p. 6

A Petrobras é a maior empresa brasileira sob todos os parâmetros (faturamento, recolhimento de impostos, lucro líquido, geração de caixa, investimento, folha de pagamentos, comércio exterior etc). A companhia estatal deu um grande salto nas duas últimas décadas e, para decepção de alguns saudosistas, tal crescimento se acelerou a partir da quebra do exaurido monopólio e da abertura do mercado brasileiro de petróleo e gás. Sujeita a regras de mercado, a estatal ganhou asas para alçar voos mais altos, fazer parcerias (alargando os horizontes), remunerar melhor seus empregados e acionistas.

Seu valor de mercado chegou a se multiplicar por dez, e tal valorização contribuiu para atrair centenas de milhares de novos acionistas, individuais e institucionais, uma contribuição para fortalecer o mercado brasileiro de capitais.

No entanto, nos dois últimos anos, parte dessa valorização se esfumaçou. A crise financeira internacional de 2008/2009 (cujas consequências ainda são sentidas) sem dúvida abalou as bolsas de valores em todo o mundo, mas a perda de valor da Petrobras foi proporcionalmente mais acentuada do que a média. E aparentemente não condiz com os resultados dos balanços e a perspectiva de expansão da companhia.

O que teria acontecido? Mesmo para experientes analistas financeiros é difícil identificar apenas razões objetivas para justificar movimentos de alta e de baixa nas bolsas, o interesse ou o desinteresse em torno de determinada ação. Todavia, é possível atribuir fatia expressiva da desvalorização da Petrobras a uma certa descrença de investidores institucionais aos rumos da Petrobras a partir da definição de algumas regras do modelo de partilha para exploração de novos blocos do pré-sal, assim como da ingerência governamental em muitas questões relativas aos passos futuros da empresa.

Ao que tudo indica, o governo (como acionista majoritário) percebeu o risco desse caminho e está mudando de orientação. O novo plano de negócios da Petrobras para o período 2011-2015 - e as projeções para 2020 - está mais focado na recuperação do capital investido, adequando-se os cronogramas dos projetos mais a questões econômicas e financeiras que a objetivos de ordem político-ideológica.

O mercado precisa ver para crer, mas o importante é que o discurso já mudou, um bom sinal. O sucesso da indústria do petróleo - e da Petrobras, como líder do setor - será um dos avalistas da economia brasileira nos próximos anos.

A fronteira aberta com as descobertas no pré-sal motiva a atração de centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico para o país, com possibilidade de engajamento das universidades nesse processo. Os prováveis avanços decorrentes desse esforço de pesquisa podem beneficiar a indústria como um todo e ainda proporcionar um enorme aprendizado na gestão, um dos elos fracos da nossa economia. Um plano de negócios privilegiando a racionalidade, como o anunciado pela Petrobras, não deixa de ser alvissareiro. Esperemos a execução prática do plano.