Título: Bolsa a preço de banana. É hora de comprar?
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 15/08/2011, Economia, p. 21

Maioria dos 15 especialistas ouvidos pelo GLOBO recomenda adquirir aos poucos e com visão de dois a três anos

MARCELO RIBEIRO recomenda ações defensivas ou ficar na renda fixa

bruno.villas@oglobo.com.br

O tombo da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no início da semana passada trouxe várias questões aos investidores: o mercado chegou ao fundo do poço? É hora de aproveitar para comprar ações a preço de banana ou bater em retirada para a renda fixa? Muitos podem ter palpites, mas ninguém sabe ao certo o que vai acontecer nos próximos meses. A certeza é que os mercados estão turbulentos, em meio a revisões nas expectativas de crescimento da economia mundial. O GLOBO ouviu 15 especialistas em mercado na semana passada, entre economistas, analistas de corretoras e professores de finanças. Dez recomendam comprar ações por considerá-las muito baratas, mas impõem muitas restrições para isso: pensar em longo prazo (dois a três anos), comprar aos poucos, avaliar bem as empresas, consultar analistas. Dois não recomendam a compra e três preferiram não sugerir dadas as incertezas.

Na segunda-feira passada, o Ibovespa, principal índice do mercado, recuou 8,08% e desceu aos 48.668 pontos, após a agência Standard & Poor¿s (S&P) cortar a nota de crédito dos Estados Unidos. Foi o maior tombo da Bolsa brasileira desde 22 de outubro de 2008 (-10,18%), voltando ao menor patamar desde 30 de abril de 2009. Os pregões seguintes foram de recuperação. Mas os especialistas ainda veem ações baratas. No ano, o Ibovespa acumula uma queda de 22,84%.

Segundo Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec/Rio, o tombo das ações tornou o mercado convidativo para quem tem dinheiro sobrando e pode aplicar pensando no longo prazo. Ele sugere diversificar a compra entre papéis de grandes companhias, as chamadas blue chips, dando prioridade às ações de setores que mais caíram.

¿ Eu compraria ações de bancos de primeira linha e grandes redes de varejo ¿ afirma Braga. ¿ Mas quem precisa de facilidade para resgatar o dinheiro a curto e médio prazos, a renda fixa é o lugar mais indicado.

Especialistas sugerem diversificar investimentos

Para Paulo Hegg, da Blue Star Private, as melhores apostas do mercado são papéis voltados ao mercado doméstico, como setor bancário, saúde, alimentos, entre outros.

¿ É um momento interessante para comprar aos poucos para quem vai ficar na Bolsa alguns anos. Já para investidores com um horizonte mais curto, acho que o mercado está ainda muito volátil, sem uma direção definida. O risco é grande.

Para avaliar que as ações estão baratas, o mercado usa alguns indicadores. Um deles é o preço/lucro, que, na prática, mede quantos anos o investidor levaria para recuperar o dinheiro investido nas ações apenas recebendo os lucros distribuídos por ação da empresa. O P/L do Ibovespa está em 8,2, abaixo da sua média histórica.

Para Marcelo Ribeiro, da Pentágono Asset Management, o argumento de que as ações estão baratas é verdadeiro, mas que isso, por si só, não deve ser uma razão para que investidores que não conhecem o mercado irem às compras dos papéis.

¿ O melhor é evitar ações ligadas a commodities e buscar setores bem defensivos na Bolsa, como bebida e fumo. Para quem sair, o melhor é colocar 80% em renda fixa e 20% em fundos cambiais ¿ acredita.

Flavio Lemos, diretor da Trader Brasil Escola de Investidores, avalia que o momento não está favorável à compra de ações. Para ele, as fortes oscilações do mercado sugerem que o momento é para investidores profissionais.

¿ Não se pega uma faca caindo de ponta no chão ¿ afirma Lemos. ¿ E, nessas horas, é preciso ter um plano. E o plano teria sido deixar programada na corretora uma ordem de venda de ações para impedir perdas, o chamado stop losses. Se o capital de risco para renda variável for de R$100 mil, a ordem deveria estar marcada para perda de 1% deste valor, ou seja, mil reais.

William Eid Junior, responsável pelo Centro de Estudos em Finanças da FGV, avalia que, independentemente da escolha por comprar ou não as ações, o investidor deve sempre diversificar suas aplicações. Ou seja, ter uma parte dos recursos também aplicada em renda fixa.

¿ Títulos de renda fixa estão com boa rentabilidade e são fáceis de comprar pelo site do Tesouro Direto. Os CDBs (Certificados de Depósito Bancário, títulos de bancos) também estão ficando mais atraentes ¿ afirma.

Para Alexandre Espírito Santo, chefe do departamento de finanças da ESPM/Rio, o investidor deve alocar, no máximo, 25% em ações e deixar o restante em renda fixa. Ele é, portanto, um dos que concordam que comprar ações aos poucos e aguardar pelo menos dois anos pode ser um bom negócios.