Título: Guerra estridente no Paraná
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 22/08/2009, Política, p. 4

Gleisi Hoffmann, candidata ao Senado e mulher do ministro do Planejamento, diz que saída de Flávio Arns do PT é eleitoreira

Flávio Arns: motivos para saída seriam, segundo ele, ideológicos

A disputa eleitoral do próximo ano foi o ingrediente decisivo para a saída do senador Flávio Arns do PT. Pelo menos, do ponto de vista da presidente da legenda no Paraná, Gleisi Hoffmann(1), que é pré-candidata ao Senado em 2010. Sua candidatura provocaria uma disputa interna entre ela e Arns. Processo interno que ocorreria com uma diferença de forças considerável, tendo de um lado a presidente do partido e mulher do ministro do Planejamento do governo Lula, Paulo Bernardo e, do outro, um parlamentar com pouca participação no partido e nenhum envolvimento nas discussões internas do PT. ¿Achamos que o senador estava incomodado com minha pré-candidatura. No entanto, acho que isso poderia ter sido um processo mais simples. Poderia ser resolvido com uma escolha interna ou até com a candidatura dos dois, já que há duas vagas¿, comenta ela.

Ao descrever as relações com o parlamentar, a presidente estadual do PT é discreta. Diz que ele geralmente era convidado para as reuniões, mas que nunca participou de nada ativamente. ¿O histórico dele é de distanciamento partidário.¿ Gleisi afirma que vai aguardar posição do diretório nacional sobre possíveis providências em relação ao descumprimento pelo senador das regras de fidelidade partidária, já que o parlamentar está deixando a legenda durante o exercício do mandato. ¿Acho que faltava somente uma desculpa para ele se desfiliar do PT. Só espero que o tratamento dado a ele seja o mesmo concedido a outros parlamentares que abandonaram a legenda. Inclusive a senadora Marina Silva. Mas não vamos fazer nada por enquanto. Deixarei isso para ser resolvido pelo diretório nacional¿, diz.

Já preparado para a guerra que pode se instaurar em torno do seu mandato, o senador Flávio Arns diz que vai mandar uma carta para os dirigentes do partido, inclusive os estaduais, explicando os motivos da sua decisão. Todas as justificativas, segundo ele, têm motivos ideológicos como pano de fundo e não eleitorais, como garantem alguns petistas. ¿Semana que vem, vou pedir meu desligamento do PT. Se o partido quiser entrar com representação contra mim no TSE, enfrentarei. Vou alegar que a legenda mudou e abandonou ideologias. Se eu perder o mandato por conta disso, terá sido por uma boa causa¿, argumenta o parlamentar.

Divergências O caso de Flávio Arns não é o único em que integrantes da cúpula petista nos estados brigam internamente. No Mato Grosso do Sul, a disputa entre o senador Delcídio Amaral e o ex-governador Zeca do PT levou o ex-ministro José Dirceu a interferir diretamente nas discussões regionais, em busca de um entendimento. Zeca ameaçava lançar-se candidato ao Senado, mesmo com a declaração de Delcídio de que tentaria a reeleição. José Dirceu conseguiu acalmar os ânimos e amarrar a candidatura de Zeca ao governo do estado. Mas os dois grupos continuam em pé de guerra dentro da legenda.

Em Roraima, o senador Augusto Botelho enfrenta resistências internas na intenção de disputar um novo mandato no próximo ano. O mal-estar fez surgir notícias de que ele pretendia seguir os passos de Flávio Arns e aproveitar a crise nacional ¿ e a chance de justificar a atitude com um discurso ideológico ¿ para também abandonar o PT. Ontem, o senador desmentiu a intenção, apesar de ter sido um dos maiores entusiastas da atitude do colega paranaense.

1- Derrotas Por duas vezes, Gleisi Hoffmann tenta um cargo eletivo. Em 2006, acabou candidata ao Senado pelo PT. Obteve pouco mais de dois milhões de votos e foi derrotada pelo tucano Álvaro Dias. Em 2008, a presidente estadual da legenda tentou a vaga de prefeita da capital pela coligação Curitiba Para Todos. Perdeu a disputa ainda no primeiro turno por Beto Richa (PSDB), que conseguiu a reeleição. Agora, a esposa do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, é pré-candidata ao Senado pelo PT.

Vou deixar para o diretório. Só espero que o tratamento dado a ele (Arns) não seja diferente do que for dado a outras pessoas, inclusive à Marina Silva. Ele sempre fez críticas ao partido. Acho que estava esperando a chance para sair¿

Gleisi Hoffmann, presidente do PT no Paraná

Semana que vem, vou pedir desligamento do PT. Se o partido quiser entrar com representação no TSE, enfrentarei e vou alegar que a legenda abandonou ideologias. Se eu perder o mandato por conta disso, terá sido por uma boa causa¿