Título: PF: ministério orientou ONG a enganar TCU
Autor: Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 15/08/2011, O País, p. 3

Escutas revelam que funcionária viajou para organizar contas de organização acusada de desviar verba

BRASÍLIA. O Ministério do Turismo enviou a Macapá uma de suas servidoras para ajudar a organização acusada de desviar verba de seus convênios a forjar prestação de contas ao Tribunal de Contas da União (TCU). Segundo as investigações da Polícia Federal, a missão foi ordenada pelo secretário-executivo Frederico Silva da Costa, e coordenada por um de seus assessores, Antônio dos Santos Júnior. A viagem foi paga pelo contribuinte.

Segundo a PF, a coordenadora Francislene Bandeira da Silva, da Coordenação Geral de Programas Regionais do ministério, foi para Macapá em 27 de junho para se reunir com o pastor Wladimir Silva Furtado, dono da Conectur, uma das empresas do esquema. O encontro, fotografado pela PF, ocorreu na casa dele.

No Macapá, funcionária recebeu diária de R$330

Coube ao secretário-executivo passar o telefone de Furtado a Antônio, que marcou a conversa. Enquanto esteve em Macapá, Fran, como é conhecida, usou um carro providenciado pelo ministério. Recebeu diária de R$330. Em conversa interceptada pela PF, Antônio diz ao chefe, tratado de "reverendo", na véspera do encontro: "Lembra aquela nossa amiga (Francislene) que ia procurar você, hoje foi lá". "(...) Você conseguiu falar com o nosso amigo lá (Furtado, da Conectur)? (...) Ela iria hoje. Acho que vou adiar, porque, se você não conseguir falar, ela não pode ir sem saber, né?" Costa reage: "É, não, mas vou conseguir falar com ele hoje ainda, ela vai hoje? E se você ligar pra ele?"

De volta a Brasília, Fran conversou várias vezes por telefone com Furtado. E se encontrou com Humberto Silva Gomes, da Barbalho Reis, outra empresa investigada, para reunir a documentação necessária."Eu falei ontem com o Antônio. Agora é urgente, a gente precisa realmente deste documento, deixa o contato com o Humberto, qualquer coisa eu falo com ele", cobrou ela de Furtado, em 30 de junho.

No dia seguinte, Humberto explica para ela que a documentação exigida está com Fábio de Mello, dono de ONGs que, numa das gravações, recebeu de Costa orientações para montar uma entidade "de fachada".

Sobrecarregada para ajeitar os papéis do TCU, Fran desabafa ao telefone, em 7 de julho: "Surgiu até um pepino aqui agora de novo, porque pediram mais documento do TCU do Amapá. Eu vejo o Fábio, que é o cara que tá mais enrolado nisso aí. Ele não faz nenhum esforço, ele faz as viagens, deixa as coisas ai "à la vontê", né? Eu também não vou me despencar daqui para ir pra lá para resolver assunto dele".

Em seu blog, Humberto, considerado foragido pela PF, que acionou a Interpol, rebateu as acusações. Disse que na quarta-feira volta de Miami, e que as transcrições da PF estão editadas e fora de contexto. Afirmou que nunca teve contrato com governos estaduais ou o federal e que nunca participou de licitação. Seu contrato com o Ibrasi seria por meio de carta-convite, "prática utilizada por instituições, fundações e afins". O ministério informou que não conseguiu contactar as áreas responsáveis para esclarecimentos.