Título: Para especialistas, bandidos agem com sentimento de impunidade
Autor: Costa, Ana Cláudia; Bottari, Elenilce
Fonte: O Globo, 12/08/2011, Rio, p. 14

Ladrões roubam ônibus para ter lucro rápido, mesmo que seja pouco

ediane@oglobo.com.br

A necessidade de obter lucro rápido, apoiada num aparente sentimento de impunidade, pode ter motivado os quatro bandidos que, na noite de terça-feira, sequestraram o ônibus da viação Jurema na Avenida Presidente Vargas. Dentro do coletivo, que seguia da Praça Mauá para Caxias, havia apenas trabalhadores e estudantes, a maioria voltando para a casa. Especialistas consultados pelo GLOBO ontem disseram que, para um ladrão, não ha distinção entre possíveis vítimas. Para conseguir o seu objetivo, que é roubar, ele leva o que estiver à mão, seja de quem for.

Segundo funcionários de empresas de ônibus, cerca de 80% das passagens já são pagas com Riocard. Os alvos dos bandidos são carteiras, relógios e, principalmente os celulares dos passageiros.

¿ Nas penitenciárias, celular vale una fortuna. E assaltar num veículo tipo frescão, com vidros escuros, é muito mais fácil. Eles tiram pouco de muitos, amparados pela sensação de impunidade ¿ disse Margarida Pressburguer, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio.

Para o sociólogo Ignácio Cano, a falta de escrúpulos de um ladrão que rouba num ônibus é a mesma de quem pratica crimes do colarinho branco. Os poderosos, no entanto, têm alguém para fazer o serviço por eles e seus ganhos são mais lucrativos e menos perigosos:

¿ Os ladrões de ônibus se expõem mais. Mas acredito que escolham esse tipo de roubo pela rapidez. Só acho surpreendente que quatro homens bem vestidos estivessem envolvidos num assalto que rende tão pouco. Mas, em geral, eles querem roubar para pagar pequenas dívidas, comprar drogas.

Presidente da Associação de Praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, Vanderlei Ribeiro acredita que quem pratica esse tipo de crime costuma ser miserável, envolvido com drogas e que não mede as ações. Para a antropóloga Alba Zaluar, quem rouba não faz distinção entre suas vítimas:

¿ Esses bandidos, no entanto, não têm bom faro. Assalto a ônibus numa cidade mais policiada como o Rio?