Título: Todos temos que ter responsabilidade
Autor: Salvatti,Ideli
Fonte: O Globo, 12/08/2011, O País, p. 12

Ministra de Relações Institucionais repudia revolta da base; Dilma conversou com Lula sobre relação com Congresso

BRASÍLIA. A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, repudiou ontem a rebelião da base aliada, que paralisou as votações na Câmara por causa da demora na liberação de emendas. Cobrou responsabilidade do Congresso e disse que a opinião pública não aceitará esse comportamento. Anteontem, em São Paulo, horas após os aliados anunciarem a "greve branca", a presidente Dilma Rousseff esteve com o ex-presidente Lula, que a aconselhou novamente a ter um contato mais permanente com a base, especialmente o PMDB:

-- A presidente já está fazendo muito isso, conversando com os aliados e, principalmente, com o vice-presidente Michel Temer. E fará cada vez mais - disse Ideli.

Gerson Camarotti

Como o Planalto recebeu a retaliação dos aliados?

IDELI SALVATTI: Com a gravidade da crise econômica internacional, não se pode admitir que o Congresso ouse e tente fazer no Brasil o que o Congresso americano fez diante da crise nos Estados Unidos. Temos que ter responsabilidade. O objetivo é blindar o Brasil. Todas as questões têm importância, mas, neste momento, a prioridade é proteger o emprego e a renda, os interesses do povo brasileiro. Não podemos gastar energia com outras questões. Os líderes e partidos aliados precisam entender isso.

Como convencê-los disso?

IDELI: Todos temos que ter responsabilidade com o momento. A própria opinião pública tem entendimento de que, nesta crise econômica, não é adequado o Congresso ficar paralisado. As pessoas não vão aceitar esse comportamento. Querer piorar a condição fiscal é inadmissível.

Como diminuir a insatisfação na base?

IDELI: Não vou mais aguardar consenso para empenhar R$1 bilhão em emendas, já garantido pela Fazenda. Vou começar imediatamente a empenhar o que tenho, até para diminuir a insatisfação. Não vamos desconsiderar pleitos legítimos das emendas e da disputa por espaço no governo. Mas nada disso pode atrapalhar o foco principal, a blindagem do Brasil frente à crise.

Mas os aliados exigem um cronograma de empenho das emendas até o final do ano.

IDELI: Nas negociações, a base escolheu a opção mais difícil: a prorrogação dos restos a pagar de obras não iniciadas. A presidente resistia. Consegui prorrogar o decreto, mas, pelo acordo, novos empenhos só sairiam em setembro. Mesmo assim, o ministro Guido Mantega me autorizou R$1 bilhão para empenho. Mas eles (parlamentares) não aceitaram. Agora, fazem paralisação de votações!

Essa retaliação dos aliados é resultado também da insatisfação com as denúncias envolvendo os ministérios?

IDELI: Se está sendo difícil para o PR e o PMDB, também está sendo difícil para os demais partidos. Foi difícil quando o (Antonio) Palocci caiu. Mas o comportamento da presidente Dilma é o mesmo: os ministros têm todo o apoio e são os responsáveis pelas providências e explicações. Foi assim com o Palocci, com o Alfredo (Nascimento), com o (Wagner) Rossi, o (Mário) Negromonte e o (Pedro) Novais.