Título: PF rebate críticas do governo e ameaça com greve
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Globo, 12/08/2011, O País, p. 10

Delegados dizem que instituição já sofre com cortes de orçamento e não pode ser pautada por agenda política

BRASÍLIA. Delegados e peritos da Polícia Federal rebateram ontem as críticas do governo de que houve exageros na Operação Voucher, que prendeu acusados de desvios de recursos do Ministério do Turismo. Em comunicado, no qual ameaçam cruzar os braços já neste mês se não tiverem suas reivindicações atendidas, delegados e peritos aproveitaram para dizer que as críticas "repercutiram negativamente entre essas duas carreiras".

- A Polícia Federal já está sofrendo com a agenda econômica do governo (cortes orçamentários) e não pode ser pautada também pela sua agenda política - disse o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Bolivar Steinmetz.

Além da ADPF, assinam o comunicado a Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol) e a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF).

Entre os que não ficaram satisfeitos com a Operação Voucher estão a presidente Dilma Rousseff, o vice Michel Temer, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, vários parlamentares e o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello. A principal reclamação é a de que teria havido abuso na utilização de algemas nos suspeitos presos.

Ainda segundo o comunicado das três entidades, delegados e peritos negociam há dois anos com o governo federal, sem sucesso, melhorias na PF. Elas informaram que estão convocando assembleias para decidir que ações tomar.

- Infelizmente, o governo não enxerga a Polícia Federal como um investimento. O maior prejudicado com o contingenciamento na PF é o próprio Estado brasileiro - disse o presidente da APCF, Hélio Buchmüller.

- Nenhum servidor público suporta três, quatro, cinco anos sem reposição salarial. Isso reflete negativamente no desempenho policial - acrescentou o presidente da Fenadepol, Antônio Góis.

De acordo com um levantamento das entidades que representam as duas categorias, o enxugamento do Orçamento da União de 2011 - no valor de R$50 bilhões - foi especialmente duro com a PF, podendo comprometer ações de combate à corrupção e ao crime organizado, além das ações para a Copa de 2014.

Já a verba de custeio da PF sofreu um corte de 5% dos R$375 milhões previstos inicialmente.