Título: Assad admite erros e promete acesso à Síria
Autor: Malkes, Renata; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 11/08/2011, O Mundo, p. 35

Presidente diz que permitirá entrada de jornalistas e de delegação da ONU, mas Exército volta a bombardear Hama

RIO, BRASÍLIA e DAMASCO. Cada vez mais pressionado por aliados e inimigos, o presidente da Síria, Bashar al-Assad, surpreendeu a delegação de Índia, Brasil e África do Sul, o grupo chamado Ibas, e participou de uma reunião com diplomatas dos três países em Damasco - inicialmente marcada somente com o chanceler sírio, Walid al-Muallem. A tentativa de frear a violência que, segundo ativistas, já clamou mais de duas mil vidas em cinco meses, teve ontem um resultado paradoxal. Assad se disse comprometido com reformas políticas, mas admitiu "alguns erros das Forças Armadas" e assegurou, ainda, que "todos os esforços estão sendo feitos para evitar a recorrência de falhas". Poucas horas após as declarações, no entanto, testemunhas relataram que tanques do Exército voltaram a bombardear a cidade de Hama. E em Homs, pelo menos 15 civis foram mortos pela repressão.

- Foi uma reunião rápida, mas muito boa. Nós deixamos claro que viemos promover o diálogo - disse ao GLOBO o subsecretário-geral para Oriente Médio do Itamaraty, embaixador Paulo Cordeiro, chefe da delegação brasileira.

O grupo pediu o fim imediato da violência e defendeu o respeito pelos direitos humanos e pelo direito internacional. Segundo Cordeiro, a presença do presidente sírio no encontro foi uma resposta a um pedido feito pelo chanceler brasileiro, Antônio Patriota. A missão também reforçou a preocupação internacional e manifestou apoio às reformas anunciadas pelo governo sírio, além de lamentar as mortes de civis. O embaixador classificou o diálogo como "polido, mas firme". Os diplomatas ouviram do líder sírio promessas de que as ações militares serão suspensas em breve e, principalmente, de que o banimento de estrangeiros do país será revogado nas próximas semanas.

- Ele demonstrou disposição em receber uma delegação da Ocha (o escritório de coordenação humanitária das Nações Unidas) e, em duas semanas, permitir o acesso de vocês, jornalistas - revelou Cordeiro.

Patriota quer mais ações e menos palavras

Em Brasília, o chanceler Antonio Patriota destacou a atuação direta do Brasil na crise. Dizendo esperar "ações de Damasco, e não palavras", o ministro defendeu a moderação.

- Se Assad sair, quem entrará no lugar dele? É preciso um pouco de prudência na aplicação do remédio, para que este não mate o paciente.

Em um comunicado, o Ibas descreveu os argumentos sírios apresentados para justificar a violência no país. Ficou a cargo do chanceler Walid al-Muallem condenar os opositores ao regime do Partido Baath, no poder desde 1963.

"Há três categorias de opositores na Síria: os setores desfavorecidos pela economia; os intelectuais e acadêmicos; e grupos armados", diz o relatório do Ibas, submetido à ONU.

Entre as muitas promessas da Síria, o texto ressaltou o compromisso de Assad em completar as reformas constitucionais até fevereiro ou março de 2012. O chanceler sírio foi mais longe:

"O senhor al-Muallem reiterou que a Síria será uma democracia livre, pluralista e multipartidária até o fim deste ano", finalizam os diplomatas brasileiros, indianos e sul-africanos.

- Acima de tudo, deixamos claro que somos democracias e damos valor aos pilares da democracia. Eles disseram concordar conosco. Agora o Conselho de Segurança fará consultas sobre o caso, e vamos monitorar os acontecimentos - resumiu o embaixador Paulo Cordeiro.

Depois de enviar seu chanceler a Damasco na terça-feira, o primeiro-ministro da Turquia, Recepp Tayyip Erdogan, também voltou a pressionar os antigos aliados. Pedindo que "a Síria pare de apontar armas a seus cidadãos", ele fez um ultimato.

- Esperamos que as coisas (mudanças) sejam totalmente completadas dentro de dez a 15 dias, e os passos rumo ao processo de reforma sejam tomados - declarou o premier, segundo o diário "Hurriyet".

Com agências internacionais