Título: França acelera medidas para evitar contágio
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Fonte: O Globo, 11/08/2011, Economia, p. 25

Em meio a rumores de rebaixamento da sua nota pela S&P, Sarkozy exige ação imediata de seu gabinete

NICOLAS SARKOZY, à esquerda, convocou seu gabinete para reunião extraordinária a fim de tentar evitar o contágio da crise da dívida europeia

PARIS e MADRI. As incertezas dos investidores quanto ao futuro da zona do euro já geram dúvidas sobre a estabilidade econômica e financeira da França. E, em meio a rumores de que a agência de classificação de risco Standard & Poor¿s (S&P) poderia reduzir a nota da dívida soberana francesa, hoje em ¿AAA¿ ¿ como fez na sexta-feira com os Estados Unidos ¿, o presidente Nicolas Sarkozy se mostrou disposto a fazer o possível para evitar um maior contágio da crise da dívida europeia no país. Para afastar essa possibilidade, que faria com que os problemas migrassem da chamada periferia do euro para se instalarem no coração da moeda única, ele interrompeu as férias e se reuniu com os principais ministros de seu gabinete e com o diretor do Banco Central, Christian Noyer, para analisar a deterioração da situação.

A meta francesa é acelerar a conclusão do Orçamento de 2012 e anunciar, num prazo de duas semanas, novas medidas de ajuste para acalmar o ânimo dos mercados. Além de Noyer, Sarkozy convocou ontem o primeiro-ministro, François Fillon; o ministro de Relações Exteriores, Alain Juppé; o ministro de Finanças, François Baroin; a ministra do Orçamento, Valérie Précresse; e o ministro de Assuntos Europeus, Jean Leonetti, interrompendo o recesso de verão.

O presidente solicitou à cúpula de seu gabinete que apresente novas propostas para garantir o cumprimento das metas de redução do déficit e que todas as medidas sejam adotadas até o fim deste mês. Para isso, segundo Baroin, o Conselho de Ministros que estabelecerá as contas do próximo ano vai se reunir antes do previsto, demonstrando que Paris está comprometida a alcançar seus compromissos. As propostas passarão por uma primeira avaliação no dia 17 e a decisão final será adotada no dia 24.

Por causa de rumores de um rebaixamento da França, a S&P foi a público dizer que a classificação do país europeu está estável. Em nota, afirmou que, apesar de as proporções de endividamento de Washington e Paris serem semelhantes, as receitas fiscais da França são melhores e seu déficit orçamentário não é tão elevado. As outras gigantes do rating, Fitch e Moody¿s, também reafirmaram a nota ¿AAA¿ da França.

Governo francês é mais sério que o dos EUA, diz agência

¿O governo francês mostrou-se mais sério na resolução das questões orçamentárias (que os EUA)¿, afirmou a S&P.

¿ Esses rumores são totalmente infundados e as três agências, S&P, Fitch e Moody¿s, confirmaram que não há risco de rebaixamento ¿ disse Baroin.

Os investidores, no entanto, já não veem a França com a mesma confiança que viam há alguns meses. Apesar de a dívida do país continuar com qualificação ¿AAA¿ segundo as três grandes agências de classificação de risco, o custo do financiamento dos títulos soberanos do país já registra taxas recordes. O mercado já exige 90 pontos básicos (0,9 ponto percentual) de rendimento extra para comprar títulos de dez anos da dívida francesa. A comparação é feita em relação aos títulos alemães, embora ambos os países tenham classificação ¿AAA¿. Essa taxa representa, segundo a agência de notícias Bloomberg, quase o triplo do que era pedido pelos investidores em 2010, quando o retorno cobrado era de 33 pontos básicos (0,33 ponto percentual).

Especialistas já questionam a permanência da França no mais alto escalão das agências de classificação de risco. Após o rebaixamento histórico da nota dos EUA pela S&P, a suspeita é de que a França seja a próxima da lista. O diretor da filial europeia da agência, Jean-Michel Six, afirmou no fim de semana passado que a classificação ¿AAA¿ da dívida francesa tem uma perspectiva estável. Mas há sinais de que os investidores tendem a só considerar a dívida da Alemanha totalmente confiável.

O rendimento adicional que o mercado cobra para comprar outros títulos ¿ que não o alemão ¿ com a chancela do triplo ¿A¿ está em alta não só na França. O diferencial entre a dívida holandesa de dez anos e a alemã já chegou a 39 pontos básicos (0,39 ponto percentual), 20 a mais do que no início do ano. A situação se repete na Dinamarca, onde o diferencial frente à Alemanha saltou dos seis pontos básicos (0,06 ponto percentual), em janeiro, para 26 (0,26 ponto percentual), segundo a Bloomberg.

Segundo um blog do jornal francês ¿Le Monde¿, Sarkozy anunciou, na reunião de seu gabinete que quer se reunir com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com os presidente da China, Hu Jintao, e dos EUA, Barack Obama para discutir as turbulências na economia global e a instabilidade no mercado financeiro.

De acordo com o blog, Sarkozy vai se reunir com Merkel na semana que vem para preparar propostas sobre governança econômica da zona do euro, que serão apresentadas no fim deste mês. Com o objetivo de preparar a cúpula do G-20, que ocorrerá em novembro no balneário francês de Cannes, Sarkozy aproveitará uma visita, no fim de agosto, à Nova Caledônia, para passar por Pequim e se encontrar com Hu. Já o encontro com Obama está previsto para ocorrer à margem da Assembleia Geral da ONU, nos dias 21 e 22 de setembro, em Nova York.

SUPERCOMISSÃO JÁ TEM 9 PARLAMENTARES, na página 27