Título: Dilma cobra informações e reclama de algemas
Autor: Brígido, Carolina; Amorim, Silvia
Fonte: O Globo, 11/08/2011, O País, p. 10

Presidente ficou irritada por desconhecer dimensão da operação da PF no Turismo e pela exposição que presos sofreram

BRASÍLIA. Extremamente contrariada com a forma como foi feita a operação da Polícia Federal que atingiu o Ministério do Turismo e com a falta de informações detalhadas, a presidente Dilma Rousseff determinou que o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, enquadrasse seus subordinados. Segundo auxiliares diretos, a presidente ficou irritada por desconhecer a dimensão da operação, que envolveu 200 policiais. Dilma também cobrou o fato de os presos terem sido algemados e expostos em fotos, mesmo depois de ela já ter mostrado desconforto com a operação.

Diante das exigências da presidente, o ministro Cardozo cobrou explicações da PF sobre a operação que prendeu 36 pessoas envolvidas em um esquema de desvio de recursos do Ministério do Turismo. Segundo assessores, Dilma foi surpreendida com o estilo de atuação na primeira grande operação da PF em seu governo. No Planalto, há uma avaliação de que o inquérito não se sustenta e que há risco de a operação se transformar numa "nova Satiagraha", referência a erros cometidos na operação que investigava o banqueiro Daniel Dantas. A mesma expressão foi usada pelo ex-ministro José Dirceu em seu blog.

O que mais teria irritado Dilma foi o fato de ela não ter recebido explicações sobre a operação, mesmo depois de ter cobrado notícias do ministro da Justiça. O temor no Planalto foi a consequência política da operação junto aos partidos aliados, especialmente o PMDB.

Por esses relatos, Dilma foi informada da ação da Polícia Federal por volta das 8h, quando a operação já estava em curso. Ela chamou Cardozo ao gabinete. Mas, quando ele chegou ao Planalto, por volta das 9h30m, ainda não tinha informações detalhadas. Integrantes da cúpula do PMDB já cobravam do Planalto explicações. Mas Dilma não tinha como dar satisfação.

- A presidente não sabia nem mesmo quem eram as pessoas envolvidas, até mesmo para dar uma justificativa. Por isso, ela ficou muito irritada por falta das informações detalhadas - explicou um auxiliar.

Avaliação feita ontem no Planalto é de que houve exagero na exibição dos presos, o que incomodou muito a presidente Dilma. No Planalto, esse fato foi visto como "ousadia" da PF numa ação contra Cardozo.

No final da manhã de ontem, o ministro cobrou por escrito informações do diretor-geral da PF, Leandro Daiello, sobre suposto uso abusivo de algemas. "Caso constatada qualquer infração às regras em vigor, determino a abertura imediata dos procedimentos disciplinares cabíveis, informando-se de pronto a este gabinete as ocorrências", escreveu Cardozo.

Em resposta, Daiello disse, em nota, que "o uso de algemas na Operação Voucher ocorreu com estrita observância da súmula vinculante de número 11 do Supremo Tribunal Federal, que determina sua utilização para segurança do conduzido e da sociedade, ao invés de proibi-la terminantemente". Segundo o diretor da PF, "até o momento, não se constatou qualquer irregularidade no uso das algemas que possa justificar a instauração de procedimento disciplinar".

A irritação da presidente Dilma teve respaldo de líderes aliados no Congresso. O líder do PT, senador Humberto Costa (PE), classificou de grave a "exibição" dos presos com algemas. Para ele, houve "estardalhaço" na operação, fora do novo padrão da Polícia Federal.

- Como o processo correu em segredo de Justiça, ainda há dúvida sobre algumas prisões. Acho grave exibir presos com algemas. Houve mudança de procedimentos nas operações da Polícia Federal desde a saída de Paulo Lacerda (ex-diretor da PF). Mas, na primeira grande operação do governo Dilma, tem esse estardalhaço. Podem ter ocorrido exageros nas prisões - disse Costa.

- É um absurdo exibir o Colbert Martins com algemas. Essas pessoas não são foragidas, não são bandidos, não são criminosos. São pessoas de bem que estavam ali para oferecer depoimento. O trauma que fica é irreparável. Aparecer algemado já é uma forma de condenação - reforçou o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).