Título: Mantega sinaliza medidas no câmbio
Autor: Bôas, Bruno Villas; Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 26/07/2011, Economia, p. 26

Ministro diz que governo tem instrumentos para conter desvalorização do dólar

SÃO PAULO. O governo tem em mãos novos instrumentos para conter a desvalorização do câmbio, de acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele não quis especificar quais seriam essas medidas, mas ressaltou que não usa o câmbio como uma política de combate à inflação, indicando que a pressão dos preços não seria um impeditivo para também fazer um combate à alta do real.

- O câmbio é uma questão que me preocupa. Por um lado, é uma expressão da situação mundial de desvalorização da moeda dos países em dificuldade. Por outro, há também manipulação cambial por parte dos países que procuram arbitrariamente reduzir o valor da sua moeda para poder exportar mais e ser mais competitivo, além daqueles que fazem concorrência desleal - disse, após participar de almoço com empresários em São Paulo.

Mantega disse que, além do combate à valorização do real, o governo já adotou medidas para fortalecer a defesa comercial. Ele citou como exemplo a criação de um departamento de inteligência na Receita Federal, para fortalecer a fiscalização sobre fraudes em importações, sobretudo a triangulação, manobra em que a origem do produto é maquiada para evitar as tarifas antidumping.

O ministro concordou que há hoje um "pouso suave" da inflação, como mencionado na entrevista da presidente Dilma Rousseff na sexta-feira. Segundo ele, não há contradição em conciliar o combate à inflação com o crescimento econômico. A previsão da Fazenda é que Produto Interno Bruto (PIB) tenha uma expansão entre 4% e 4,5% este ano. com a inflação medida pelo IPCA encerrando o ano abaixo do teto da meta, de 6,5%.

- Não há conflito entre crescimento e combate à inflação. Derrubar a inflação sempre será a prioridade número um no Brasil. Antigamente se derrubava a economia, agora fazemos diferente: controlamos a inflação sem desaquecer a economia. É isso que é chamado pouso suave - afirmou.

Ele acrescentou que o surto inflacionário não é exclusividade do Brasil e afeta outros países, e ressaltou que o combate à inflação está sendo feito com a redução moderada do crédito e da atividade econômica. Ele citou a retirada dos incentivos dados ao consumo no período da crise, que reduziu o ritmo de crescimento sem acabar com o dinamismo do mercado interno. Na apresentação aos empresários, o ministro destacou a importância do mercado consumidor do país em meio a uma situação de crise internacional:

- Esse é um diferencial que o Brasil tem e continuará tendo porque sustentaremos esse mercado consumidor.

Para o ministro, isso cria uma maior segurança, inclusive num cenário adverso, como o da não aprovação do novo teto da dívida dos EUA. Mantega disse que o país está preparado para enfrentar eventuais desdobramentos dessa crise, para ele, uma "marcha da insensatez":

- Nem gosto de pensar nessa possibilidade de não resolução da dívida americana. Provavelmente haveria uma fuga de capital para os EUA, curiosamente é isso que costuma acontecer, e redução de crédito e de liquidez. O Brasil está preparado para uma coisa dessas. Mas eu não creio que isso vai acontecer - afirmou.