Título: Dólar abaixo de R$1,55 pela primeira vez em 12 anos
Autor: Bôas, Bruno Villas; Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 26/07/2011, Economia, p. 26

Moeda recua 0,64%, para R$1,543, apesar de atuação do BC. Bovespa cai 0,50% com crise da dívida dos EUA

O dólar comercial recuou ontem pelo quinto pregão seguido e passou a ser vendido abaixo de R$1,55 pela primeira vez desde 18 de janeiro de 1999, quando o governo promoveu a maxidesvalorização do real. Mesmo com uma atuação mais agressiva do Banco Central (BC) e os alertas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o governo poderia adotar novas medidas para conter o câmbio, a moeda americana fechou em baixa de 0,64%, a R$1,543.

Segundo especialistas, a desvalorização foi influenciada pelo risco de calote dos Estados Unidos, o que provocou um movimento de enfraquecimento do dólar frente a diversas moedas pelo mundo. Mas uma recente declaração da presidente Dilma Rousseff, descartando medidas mais ousadas para conter a valorização do real, deu confiança a quem aposta contra o dólar.

- Ficou claro que o governo prefere ajudar os exportadores a conviver com o dólar barato a adotar medidas mais drásticas. E que vai usar a moeda barata para ajudar no controle de inflação - disse José Carlos Amado, operador de câmbio da Renascença

Mantega afirmou ontem após palestra em São Paulo que o governo pode adotar novas medidas para impedir a valorização do real. Mas a declaração pouco afetou o preço da moeda no mercado.

O BC, no entanto, intensificou sua atuação. A autoridade monetária promoveu, pela primeira vez desde abril deste ano, um leilão de compra de dólar no mercado a termo - com entrega futura da moeda. O BC também realizou dois leilões de compra de dólares no mercado à vista, nos quais retirou cerca de US$500 milhões de circulação.

Para especialista, mercado tenta manipular nova Ptax

Para Rodrigo Trotta, superintendente de Tesouraria do banco Banif, novas medidas do governo tendem a envolver aumento de impostos sobre operações financeiras, o chamado IOF. Para ele, no entanto, novas medidas seriam apenas paliativas, ou seja, teriam efeito de curto prazo na cotação da moeda.

- O governo não tem muito o que fazer, a não ser medidas mais drásticas, o que não acredito - afirma Trotta.

Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora, acredita que os agentes do mercado estão buscando formas de influenciar na formação da nova Ptax, taxa estabelecida pelo BC e usada nos contratos futuros de câmbio. No fim desta semana, pela primeira vez, a taxa será apurada com base em seu novo cálculo: um processo de quatro consultas diárias ao mercado.

- Por essa tentativa podemos ter uma pressão de baixa fortemente induzida (no preço do dólar). A intensificação dos leilões de compra do BC serão infrutíferos para conter a apreciação do real.

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou ontem em baixa de 0,50%, aos 59.970 pontos. A queda interrompeu uma sequência de quatro altas. O pregão foi marcado pela cautela, devido ao impasse em relação à elevação do teto do endividamento do governo dos EUA.

- A semana começou com o mercado esperando as negociações sobre o teto da dívida americana - disse o estrategista da corretora Ágora, José Francisco Cataldo.