Título: O amigo 'Mendezinho'
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 19/08/2011, O País, p. 4

Próximo de Dilma, novo ministro encarou PMDB gaúcho por ela

MENDES RIBEIRO: com fama de que empobreceu na política, tem, hoje, patrimônio de R$382 mil

BRASÍLIA. O deputado gaúcho Jorge Portanova Mendes Ribeiro Filho, que se transformou no novo ministro da Agricultura menos de sete horas após a queda de seu colega de partido Wagner Rossi, só se aproximou da cúpula peemedebista depois que assumiu sozinho o desgaste no Rio Grande do Sul de fazer campanha para a eleição da presidente Dilma Rousseff e de Michel Temer. O PMDB local, adversário histórico do PT, apoiava José Serra (PSDB). A relação de amizade com Dilma e o apoio da bancada ruralista, além de currículo considerado dos mais corretos, selaram sua indicação para ministro.

A amizade de Dilma com o "Mendezinho", como ela e seu ex-marido Carlos Araújo o tratam, ficou um pouco abalada na votação do Código Florestal na Câmara, quando o deputado votou ao lado dos ruralistas, contra o Planalto. Tanto que Dilma demorou quatro meses para aceitar sua indicação para líder do governo no Congresso.

Sua base no Rio Grande do Sul é a radiodifusão, mas ele tem o apoio também dos produtores de fumo e de vinicultores. Agora, como ministro da Agricultura, terá que defender a posição do governo na votação do Código no Senado.

Mendes, 56 anos, é descrito como um homem de bem, que empobreceu na política e que vive hoje em um apartamento de 80 metros quadrados em Porto Alegre. No final da campanha do ano passado, pediu adiantamento do 13º salário. Ele informa ser um homem de poucas posses em sua declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral: seu patrimônio resume-se a R$382 mil. Ele empobreceu da eleição de 2006 para esta. Naquele ano, o patrimônio declarado era de R$569 mil.

Carlos Araújo, o ex-marido e confidente de Dilma, conta que os três tiveram uma convivência muito próxima, de amigos, em meados da década de 80, quando os dois eram deputados estaduais e relataram juntos a nova Constituição do Rio Grande do Sul, aprovada em 1989. Mendes frequentava a casa dele e de Dilma para discutir os textos. Acabaram selando uma amizade forte, e hoje, quando podem, saem para jantar.

- Ele apoiou Dilma porque a conhecia e tinha confiança nela. Mendes aguentou nos peitos, com ajuda de prefeitos, puxou a campanha da Dilma aqui no estado - disse Carlos Araújo. - O Mendes é uma pessoa extremamente honesta, pobre, e só agora, depois de 24 anos de vida parlamentar, conseguiu recém comprar um apartamento financiado. Ele não é de grupinho. Admiro-o muito por sua capacidade de trabalho e honestidade. Ele é um ótimo administrador e tenho certeza de que vai dar um jeito lá no Ministério da Agricultura. Dilma não vai nomeá-lo por gratidão, mas por seu mérito.

O novo ministro, advogado por formação, está no seu quinto mandato de deputado federal. O primeiro foi em 1995. Ele ocupou na Câmara o espaço deixado pelo pai, o ex-deputado Mendes Ribeiro, um dos integrantes da "turma do poire" do deputado Ulysses Guimarães. Com Almino Afonso, Miro Teixeira, Mário Covas e o próprio Ulysses, o pai do novo ministro era considerado um dos maiores tribunos da Câmara.

Há cinco anos, ele teve de ser operado de um tumor cerebral que quase lhe tirou a vida. Retirou um tumor do tamanho de uma bolinha de tênis. Fumava muito, mas parou desde então. Vaidoso, sempre brinca com cinegrafistas e fotógrafos na busca pelo melhor ângulo.

Ontem, Mendes procurava não falar sobre sua amizade com a presidente, afirmando que não queria parecer que estava se vangloriando disso. Tido como muito direto em suas declarações e, às vezes, até sem paciência, é elogiado por dialogar com opositores.

- Vou em casa ver se como um pedaço de pão - disse Mendes por volta das 15h, quando deixava o gabinete da liderança do Congresso depois de um dia intenso.

Homem de partido, o novo ministro da Agricultura recebeu do diretório nacional do PMDB a maior parte da verba para sua campanha à reeleição. Do R$1,050 milhão que declarou ter arrecadado em 2010, R$380 mil saíram do partido. O comitê financeiro da campanha da presidente lhe deu mais R$50 mil. Os demais financiadores são todos do Rio Grande do Sul. O maior doador privado foi o grupo Gerdau, que lhe concedeu R$120 mil.

As empreiteiras gaúchas lhe doaram cerca de R$150 mil. Já a indústria de papel e celulose contribuiu com mais R$62 mil. E uma agropecuária deu R$25 mil. Mendes Ribeiro também recebeu R$20 mil da Associação Nacional da Indústria de Armas e Munição, forte no seu estado.