Título: Onda de demissões assusta partidos aliados
Autor: Camarotti, Gerson, Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 19/08/2011, O País, p. 10

Depois da queda de quatro ministros, base diz que relação com Dilma pode agravar se demandas não forem atendidas

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Apesar da ação da presidente Dilma Rousseff para fortalecer o vice-presidente Michel Temer na troca de comando do Ministério da Agricultura, a quarta queda de um ministro, em menos de oito meses de governo, deflagrou uma onda de insegurança entre os partidos aliados. No PMDB, cresce a avaliação de que o ministro do Turismo, Pedro Novais, está extremamente enfraquecido, o que abriu uma disputa precoce pela sucessão no comando da pasta.

Mas a avaliação mais preocupante, no governo e no Congresso, é que essas mudanças podem agravar a relação de Dilma com sua base, principalmente se demorarem a sair a liberação de emendas e as nomeações para cargos de segundo e terceiro escalões.

Aliados alertaram interlocutores palacianos que o troco pode ocorrer na votação de matérias complicadas, como a da emenda constitucional que prorroga a DRU (Desvinculação das Receitas Orçamentárias), que precisa ser aprovada até dezembro:

- Não será fácil reverter esse quadro de insatisfação. É preciso esforço do governo para readquirir a credibilidade dos aliados. Para isso, a liberação de recursos é importante, até porque há forte pressão, principalmente porque será ano eleitoral - reafirmou o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).

Os aliados temem que a onda de denúncias chegue a mais ministérios chefiados por partidos governistas:

- É muita demissão e queda de ministro em tão pouco tempo. Está todo mundo angustiado. Se as demandas começam a ser atendidas, a base fica mais tranquila. Depois que a presidente Dilma entrou pessoalmente na articulação, a expectativa é que as dificuldades sejam superadas - disse o vice-líder do governo no Congresso, deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

PMDB disputa cargo que Mendes Ribeiro ocupava

Mesmo desgostosa com a demissão, a cúpula do PMDB reconhece que Dilma soube conduzir o processo de substituição na Agricultura, ao repassar a Temer a responsabilidade de escolher o momento para a troca de comando na pasta.

Por outro lado, abriu-se uma guerra no PMDB pelo cargo que Mendes Ribeiro ocupava: líder do governo no Congresso. A bancada da Câmara quer a indicação do deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), e a do Senado tenta indicar o senador Eduardo Braga (PMDB-AM).

E há deputados a favor da substituição de Pedro Novais no Ministério do Turismo. Nessa confusão, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), não consegue mais disfarçar seu desconforto no partido. Foi seu irmão Oscar Jucá Neto, ex-diretor da Conab, o responsável pelo início da crise na Agricultura, ao acusar Wagner Rossi de corrupção. Jucá nem estaria mais participando das reuniões de cúpula do partido.

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