Título: Pagot endereça carta lacrada à presidente
Autor: Camarotti, Gerson; Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 26/07/2011, O País, p. 3

Antes de entregar o cargo, diretor participa de ato de desagravo com 500 funcionários

BRASÍLIA. Ao entregar sua carta de demissão ontem, o diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, envolvido nas denúncias de cobrança de propina e superfaturamento nas obras do órgão, ainda tentou demonstrar força e prestígio. Reuniu cerca de 500 funcionários no auditório do Dnit para fazer um discurso de despedida e, numa última visita ao Palácio do Planalto, depois de não conseguir um encontro com a presidente Dilma Rousseff, entregou ao ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral, uma carta de teor não divulgado endereçada à presidente.

Pagot participou do ato de desagravo nas dependências do Dnit como parte do seu desejo, manifestado anteriormente, de ter uma saída honrosa do cargo. Em clima de revolta e indignação, os servidores o aplaudiram de pé, principalmente quando refutou declaração do ministro da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, de que o Dnit tem "o DNA da corrupção".

Pagot afirmou que o Dnit não é uma casa de corrupção e lembrou que era o órgão responsável pela maior parte das obras do PAC.

- Repito: Não concordo com o ministro Jorge Hage, que disse que o Dnit tem o DNA da corrupção. Esta é uma casa de muito trabalho. Tem coisa que não sai no jornal. Antes havia localidades (no país) em que se gastavam oito horas para se chegar a um hospital, e hoje se chega em uma hora. E isso não é fruto do trabalho de um diretor, mas de todos vocês.

No discurso, ele comunicou que estava deixando o comando do Dnit, que assumiu em setembro de 2007, e agradeceu a todos os presentes. Em defesa do Dnit usou argumento parecido com o do petista Hideraldo Caron, que se demitiu na sexta-feira da diretoria de Infraestrutura Rodoviária: as ações do órgão são muito superiores às irregularidades.

- O Dnit não é o órgão da denúncia, é o órgão que mais trabalha, responsável pela maior execução do PAC na Esplanada. Se tinha irregularidades, era um número muito pequeno diante do volume de obras executadas - discursou Pagot, pedindo que seu agradecimento fosse repassado aos 23 superintendentes.

O ato foi realizado pela manhã, e só Pagot falou; não foi franqueada a palavra aos servidores. Em seguida, ele entregou ao ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, sua carta de demissão. No mesmo documento, houve o pedido de cancelamento de suas férias, que se estenderiam até 4 de agosto.

Pagot entrou de férias após a eclosão de denúncias que atingiram a pasta dos Transportes no início de julho e, dessa forma, impediu seu afastamento imediato do cargo, como havia determinado a presidente Dilma Rousseff. Tentou viabilizar sua continuidade no cargo em dois depoimentos, prestados na Câmara e no Senado, quando falou que pretendia continuar na função. Em conversas com jornalistas, fez ameaças veladas ao falar sobre a participação do Dnit na arrecadação de recursos para campanhas do PT. Mas Dilma já havia avisado que o afastaria do Dnit assim que ele retornasse de férias.

"O ministro de Estado dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, recebeu na manhã de hoje o pedido de cancelamento das férias do diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, programadas para o período de 25 de julho a 4 de agosto. No mesmo documento, o diretor comunicou que já solicitou à presidenta da República sua exoneração do cargo de diretor-geral do Dnit", diz a nota assinada por Passos, confirmando o pedido de exoneração de Pagot.

Enquanto não sair a exoneração de Pagot e de Hideraldo Caron no Diário Oficial, eles continuam despachando nessa fase de transição, para encaminhar as obras em andamento.