Título: Caixa investiga envolvimento de funcionários
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Fonte: O Globo, 13/08/2011, O País, p. 10

ESCÂNDALOS EM SÉRIE

Representante do Ibrasi teve acesso a dado confidencial fornecido de dentro de agência do banco em SP

BRASÍLIA. A Caixa Econômica Federal (CEF) abriu ontem procedimento para apurar o envolvimento de dois de seus funcionários no esquema de desvio de verbas do Ministério do Turismo. Escutas telefônicas da Polícia Federal na Operação Voucher revelaram que servidores da agência Iguatemi, em São Paulo, facilitavam o acesso a dados sigilosos e passavam por cima de exigências do banco para favorecer operações do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Infraestrutura Sustentável (Ibrasi).

Numa das gravações que compõem o inquérito, um dos funcionários, identificado apenas como Edmilson, conversa com Katiana Necchi, filha de Maria Helena Necchi, diretora do Ibrasi, e aceita fornecer a ela, por fax, papel confidencial. "É o seguinte: vou te mandar um documento que você tem a obrigação de me tirar aquela parte confidencial, tá? (...) Aquela parte que tem o asterisco 20, pelo amor de Deus, dá fim com aquilo! (...) Isso é extremamente confidencial", adverte, em grampo feito em 2 de maio. Para a PF, a prática evidencia quebra de sigilo funcional.

No dia seguinte, Katiana Necchi pede a outro funcionário, identificado como Rodolfo, que faça um pagamento para o Ibrasi mesmo que a assinatura apresentada não bata com a de Luiz Gustavo Machado, proprietário da entidade, armazenada no banco. A proposta era buscar a assinatura numa empresa de São Paulo, embora Gustavo Machado estivesse em Macapá (AP).

"Nem que eu peça pra ele assinar 20 vezes, até ele fazer a assinatura que está aí. (...) Sei que agora vocês estão mais preocupados por causa da história do TCU (Tribunal de Contas da União, que investiga o Ibrasi)", afirma Katiana. Num outro telefonema, Rodolfo dá a resposta: "Sem problema".

A Polícia Federal sustenta que, por causa das auditorias do TCU, a quadrilha montou uma rede para adulterar dados de prestações de contas para fazer pagamentos pela Caixa, quando, na prática, os serviços previstos em convênio com o ministério não eram prestados. Em nota, o banco informou que tem "todo o interesse na completa apuração do caso". E que pediu à PF acesso oficial ao processo.

No inquérito da Operação Voucher, a PF apresenta ainda detalhes sobre as operações que o Ibrasi montou para tentar justificar serviços que não fez.

Nas conversas, há referências a reuniões com o advogado Romildo Peixoto, do escritório de advocacia Cedraz e Tourinho Dantas. Segundo a PF, o advogado conversou com servidora do Ministério do Turismo para acertar os termos da defesa do Ibrasi e evitar contradições com material que seria remetido ao Tribunal de Contas da União.

O escritório de Romildo Peixoto tem como um dos seus principais sócios Tiago Cedraz, filho do ministro do TCU Aroldo Cedraz. Ao jornal "Correio Braziliense", o advogado confirmou a conversa com a servidora, mas disse que a prática é corriqueira porque queria montar a defesa do Ibrasi.