Título: Deputado relata dificuldades na fronteira
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Fonte: O Globo, 22/08/2011, O Mundo, p. 26

Itamaraty diz que brasileiros deixaram o país

BRASÍLIA. Depois de uma semana em cidades da Tunísia próximas da fronteira com a Líbia, o deputado Protógenes Queiróz (PCdoB-SP) desembarcou ontem em São Paulo sem ter conseguido pisar em território líbio, mesmo tendo obtido visto daquele país. O parlamentar esteve na região na companhia do também deputado Brizola Neto (PDT-RJ) e foi barrado pelas tropas rebeldes que chegaram ao local, contou.

O único acesso possível à Líbia seria pela cidade de Ben Gardane, na Tunísia. Os rebeldes chegaram a bloquear o caminho, interceptando os alimentos e combustíveis enviados à Líbia. Somente ontem o Exército da Tunísia interveio e passou a controlar o acesso.

Protógenes contou que a fuga em massa de civis líbios, muitos feridos e famintos, está sobrecarregando o sistema de saúde local e os supermercados já não dão conta da nova demanda. A inflação é tão alta que uma garrafa com um litro de água potável chega a custar o equivalente a US$10.

- Uma água meio salobra, mas dava para beber - reporta Protógenes.

No sentido inverso, viajam dezenas de ambulâncias com pessoas feridas nos conflitos. As outras passagens foram tomadas pelos rebeldes.

Com base em contatos mantidos com autoridades líbias, o deputado disse que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ofereceu asilo aos familiares de Muamar Kadafi. Na última sexta-feira, uma aeronave da Venezuela pousou no território da Tunísia. Seis membros da família teriam embarcado.

- Não há confirmação sobre o destino do grupo. Eles podem ter ido para a Venezuela ou, ainda, para alguma cidade na Tunísia fora da região de conflitos.

Segundo relato de Protógenes, nas cidades da Tunísia próximas da fronteira, a população sofre com sobretaxa nos preços dos alimentos. Ele contou que, nas ruas, pessoas vendem alimentos não perecíveis por preços até dez vezes mais altos que os usuais. Protógenes disse que, ao longo da última semana, alimentou-se basicamente de pão e água, devido aos altos preços e à falta de oferta. Nos supermercados, famílias se enfileiravam para comprar o que restava.

Segundo o Itamaraty, não há mais cidadãos brasileiros na Líbia. O embaixador brasileiro em Trípoli, George Ney, está na Tunísia.