Título: Acidente mata ex-presidente do BNDES em casa
Autor:
Fonte: O Globo, 22/08/2011, Economia, p. 21

Economista Antonio Barros de Castro trabalhava em seu escritório quando laje ruiu e atingiu-o na cabeça

BARROS DE Castro conciliava conhecimento acadêmico com larga experiência profissional na economia

RACHADURA NA casa do economista, no Humaitá: laudo em até 30 dias

Ex-presidente do BNDES e um dos mais importantes economistas do país, Antonio Barros de Castro morreu na manhã de ontem vítima de um desabamento de parte da laje da biblioteca da casa onde morava com a mulher Ana Célia, no Humaitá, na Zona Sul do Rio. O corpo do professor emérito do Instituto de Economia da UFRJ ¿ que desde a década de 1960 se dividia entre a vida acadêmica no Brasil e no exterior e a uma vasta experiência profissional ¿ será velado hoje na capela do campus da Praia Vermelha.

De acordo com uma das filhas do economista, a administradora de empresas Ana Clara Barros, na hora do acidente, seu pai estudava no escritório, instalado num cômodo anexo, juntamente com a biblioteca, quando parte da laje ruiu, atingindo a cabeça de Barros de Castro. Ele trabalhava ao computador, que sequer foi danificado.

¿ Cheguei à casa de meus pais por volta das 10h, quando minha mãe disse ter ouvido um barulho nos fundos, mas que não deu importância. Depois de 20 minutos, resolvi ir até o escritório, onde a porta estava aberta, e encontrei meu pai morto sob os escombros da laje ¿ esclareceu Ana Clara, comentando que, quando o equipe de socorro do Corpo de Bombeiros chegou, seu pai já estava morto. ¿ Não queremos entrar no mérito do motivo do acidente. O que vale é a pessoa que ele foi. Todos os quatro filhos, a neta e a esposa o amavam muito. Infelizmente, ele foi embora deixando um vazio dentro dos nosso corações.

Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) estiveram durante à noite no escritório, construído num cômodo anexo, nos fundos do imóvel, uma casa centenária de arquitetura em estilo normando na Rua Icatu. Ao sair, o perito disse apenas que parte da laje do escritório desabou, mas que os motivos só serão esclarecidos no laudo, que deve ficar pronto em até 30 dias.

Economista daria palestra sobre China na quinta-feira

O economista, que aos 73 anos mantinha uma vida intelectual intensa, daria uma palestra, nesta quinta-feira, no anfiteatro da UFRJ, na Praia Vermelha, sobre a China ¿ um dos temas que mais vinha estudando nos últimos tempos, desde que passou a ser consultor do Conselho Empresarial Brasil-China.

Desenvolvimentista convicto, Barros de Castro presidiu o BNDES de outubro de 1992 a março de 1993, durante o governo de Itamar Franco. Voltou ao banco como diretor e assessor da presidência entre os anos de 2004 e 2010, nas gestões de Carlos Lessa, Demian Fiocca, Guido Mantega (atual ministro da Fazenda) e Luciano Coutinho. Sua morte causou perplexidade:

¿ O professor Barros de Castro foi capaz de conciliar uma brilhante carreira acadêmica, tornando-se uma referência no pensamento econômico brasileiro, com o enfrentamento de grandes desafios como homem público. Ele deixa para todos nós um legado de compromisso com o desenvolvimento do Brasil, e, sem dúvida, fará muita falta ao nosso país ¿ afirmou Coutinho, atual presidente do BNDES.

Seu colega desde os tempos de faculdade, o economista Carlos Lessa se disse chocado com a morte de Barros de Castro. Sem saber detalhes sobre o acidente, Lessa afirmou que esse não foi o primeiro do tipo na região:

¿ A geotécnica deveria despertar para a Rua Icatu, que já sofreu outras situações difíceis. Mas o órgão do Rio se move sempre a posteriori. A prefeitura aprova o projeto, concede o habite-se, mas não se responsabiliza pelo que licencia.

Abaladíssima com a notícia da morte do amigo, Maria da Conceição Tavares, comentou de forma emocionada a perda:

¿ Foi uma morte inesperada e inusitada.

Com Maria da Conceição e Lessa, Barros de Castro formava o trio do pensamento cepalino no Brasil. Entre 1963 e 1973, ele trabalhou na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), no Chile, onde funcionava a sede da instituição, ligada às Nações Unidas (ONU).

`Como professor, era brilhante¿, diz diretor da UFRJ

O primeiro livro escrito por Barros Castro, ¿Introdução à Economia: Uma abordagem estruturalista¿ (1967), escrito em parceria com Lessa, é considerado uma referência na academia. O livro chegou a ser reeditado mais de 40 vezes e a vender cerca de 500 milhões de exemplares. A obra foi encomendada pela Cepal e deveria apresentar, de forma enxuta, o sistema econômico da América Latina.

¿ Barros de Castro, como professor, era brilhante ¿ elogia Carlos Frederico Rocha, recém-empossado diretor do Instituto de Economia da UFRJ, lembrando outros livros escritos por Barros de Castro, como ¿Sete Ensaios sobre a Economia Brasileira¿ e ¿A Economia Brasileira em Marcha Forçada¿, em parceria com Francisco Eduardo Pires de Souza.

O economista entrou em 1956 na então Faculdade Nacional de Economia, hoje UFRJ. Em 1977, conquistou o título de doutor em Economia pela Unicamp. Na década de 1980, tornou-se professor do Instituto de Economia, onde se graduara em 1959.

Sua vida acadêmica, não se restringiu apenas à UFRJ. Em diferentes períodos desde a década de 1970, Barros de Castro foi professor visitante na Universidade do Chile (1972-1973), em Berkeley (1999 e 2003), nos Estados Unidos, e nas prestigiadas britânicas Cambridge (1973-1974) e Oxford (2004). Ele era também membro do Institute for Advanced Study, da universidade americana de Princeton.

Tinha como áreas de interesse acadêmico História Econômica Comparada, Política Econômica e Política Industrial. Por isso, seus trabalhos no Brasil e no exterior foram desenvolvidos majoritariamente dento das linhas de pesquisa de Teorias do Crescimento Econômico, História Econômica do Brasil, Desenvolvimento Econômico, Estratégias Empresariais e Políticas Industriais e Tecnológicas.