Título: Empresário responsável pela Sasil está foragido
Autor: Herdy, Thiago; Talento, Biaggio
Fonte: O Globo, 18/08/2011, Economia, p. 29

OPERAÇÃO ALQUIMIA: Capital social da subsidiária Varient registrou salto de 1.420.616% em apenas dois anos

Jailton de Carvalho, Daniel Haidar, Biaggio Talento e Sérgio Roxo

BRASÍLIA, SALVADOR, RIO e SÃO PAULO. O empresário Paulo Sérgio Costa Pinto Cavalcanti, um dos proprietários do grupo Sasil, está foragido. Ele é um dos principais investigados na Operação Alquimia, deflagrada pela Polícia Federal, e dono de uma ilha localizada na costa de Salvador, na Bahia. O empresário estaria na Europa.

Segundo dados do site da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), ligada ao Ministério do Planejamento, o empresário ocupa uma área marítima de 242 mil metros quadrados da União no município de São Francisco do Conde, às margens da Baía de Todos os Santos. O terreno tem débitos em processo de inscrição na dívida ativa da União, de acordo com o site da SPU, que ontem informou não poder confirmar se a área era uma ilha.

A Sasil, distribuidora do ramo de produtos químicos e termoplásticos com sede na Bahia, é administrada pela Stahl Participações. Ela comprou a Varient - que também foi alvo das investigações - da Braskem em junho de 2010. Na ocasião, o capital social da Varient era de R$11.365.725, um salto de 1.420.616% frente aos R$800 da época de sua criação, em julho de 2008, por Eduardo Duarte e Simone Burck Silva. Seu endereço é o mesmo da filial paulista da Sasil, no bairro do Ibirapuera, segundo documentos arquivados na Junta Comercial de São Paulo.

Varient ocupa andar em prédio de escritórios em SP

O controle da Stahl, por sua vez, é dividido entre Daniela Stahlberg de Moura Lacerda, Fernanda Stahlberg de Moura Lacerda, Penido Stahlberg Filho e Rosa Generosa Arcaro Stahlberg. Mas quem assina pela empresa, segundo a Junta Comercial de São Paulo, é Cavalcanti, um dos fundadores. Quando a Varient foi comprada, ele foi nomeado seu administrador. A sede da Stahl fica no bairro de Graminha, em Limeira (SP). Seu capital social é de R$506 mil.

A Varient ocupa o 21º andar de um prédio de escritórios de alto padrão no bairro de Moema, na Zona Sul de São Paulo. Na tarde de ontem, a recepcionista do edifício informou que ninguém atendia no local.

Pelos dados disponíveis na Junta Comercial, a Stahl tem mais de 99,99% da sociedade. Cavalcanti tem menos de 0,01%, mas consta como responsável por assinar pela empresa.

A Varient nasceu como Arecacea Participações, como holding de instituições não financeiras. Ela mudou de nome para Varient Distribuidora de Resinas ao ser adquirida em maio de 2009 pela IQ Soluções & Química, um dos braços da Braskem após a compra da Ipiranga Química. Na ocasião, foi acrescido ao seu objeto social a atribuição de atacadista de produtos químicos e petroquímicos. Segundo dados da Junta Comercial, seu capital foi mantido em R$800. O site da Braskem, no entanto, informa que a Varient só começou a operar em setembro de 2009, com investimento inicial de R$20 milhões.

O primeiro aumento de capital da Varient foi divulgado em 1º de setembro de 2009, de R$800 para R$2,8 milhões. Em menos de um mês, nova elevação, para R$12,6 milhões.

Já a Alcácer, uma divisão originada da Varient, foi constituída em maio de 2009, com capital social de R$800, também por Eduardo Duarte e Simone Burck Silva. Mas em abril de 2010 eles passaram as ações para a Braskem, assumindo como diretores Denis Borges Fortes Rocco Junior e Fernando Andre Butze.

Em 12 de julho de 2010, o capital social da Alcácer foi elevado de R$800 para R$1,3 milhão. Em 18 de agosto de 2010, a Braskem concluiu a venda da empresa para a Nova Piramidal Thermoplastics.

Tragédia rendeu apelido e não teve punidos

O empresário Paulo Sérgio Cavalcanti ainda foi um dos denunciados por homicídio culposo na chamada "tragédia de Santo Amaro", na qual 16 moradores do município do Recôncavo Baiano morreram envenenados devido à ingestão de cachaça contaminada por metanol, em 1990.

A investigação apurou que a Sasil vendeu 19 bombonas de álcool etílico para o comerciante Edivaldo Gomes Sales, o "Sofia", que distribuía cachaça no Recôncavo. Mas os vasilhames estavam contaminados com álcool metílico, o metanol, que leva à morte se ingerido. Na época, o advogado de "Sofia", Itagildo Mesquita, disse que uma das bombonas continha metanol em vez de álcool etílico usado na fabricação de cachaça. Ele disse que, "por azar", foi justamente esta a primeira a ser usada por "Sofia". O resultado: 16 mortos e 30 pessoas que sobreviveram com sequelas como cegueira.

Após o caso, Cavalcanti ficou conhecido como "Paulinho Metanol". Ele tentou eximir a empresa de responsabilidade, ao afirmar que "toda indústria química tem sucata de embalagens que são vendidas até em feiras, sem qualquer controle e fiscalização". Nenhum dos envolvidos foi punido.

(*) Da agência A Tarde