Título: Braskem nega vínculo com empresa investigada
Autor: Herdy, Thiago; Talento, Biaggio
Fonte: O Globo, 18/08/2011, Economia, p. 29

Foco da PF era a Varient, antiga subsidiária da petroquímica vendida em junho de 2010

A Braskem negou ontem, em nota, qualquer ligação com o esquema de sonegação investigado pela Polícia Federal. Mas a Operação Alquimia respinga no recém-consolidado setor petroquímico, cuja maior empresa é a Braskem. Criada em 2002 como braço da Odebrecht no setor, a empresa cresceu como nunca nos últimos anos ao assumir concorrentes. Em associação com Petrobras e Ultra, comprou a Ipiranga. No ano passado incorporou a Quattor (fusão de Unipar e Suzano Petroquímica). Hoje a Petrobras detém 47% do capital votante da Braskem, controlada pela baiana Odebrecht (50,1%).

A ligação entre a operação e a Braskem é indireta. O foco da Polícia Federal foi a Sasil, que adquiriu em junho do ano passado a Varient, distribuidora de resinas da Braskem. A Varient nasceu em 2009 como resultado da cisão da distribuidora quantiQ, criada a partir da aquisição da Ipiranga Química pela Braskem, e da aquisição da Arecacea. Na época, a companhia anunciou que a Varient seria 100% independente. O investimento foi de R$20 milhões, e o faturamento projetado era de R$200 milhões. A meta era "o aumento do foco e especialização na comercialização de resinas".

Mas, menos de um ano depois, em junho de 2010, a Varient foi vendida a Sasil e Piramidal por R$12,7 milhões. Segundo a Braskem, isso já era previsto porque a Varient não fazia parte de seu core business. Com o negócio, Sasil e Piramidal ganharam atuação nacional.

Em nota, a Braskem informou não ter qualquer vínculo societário com as empresas investigadas. "Durante o período em que teve responsabilidade sobre a gestão da Varient, a Braskem, como de praxe, sempre agiu no estrito cumprimento da lei e nunca esteve envolvida em nenhum tipo de irregularidade", diz. A empresa afirma que não foi sequer notificada. Procurada, a Odebrecht não se pronunciou.

Segundo fontes do setor, todas as distribuidoras de produtos químicos são direta ou indiretamente clientes da Braskem. O esquema praticado por algumas delas seria amplamente conhecido no mercado: compram produtos da Braskem, vendem a laranjas, que os revendem ao cliente final, mas não repassam os impostos ao governo. Após algum tempo, fecham as portas.

- A Braskem virou um mastodonte e não conhece mais a ponta de sua operação, não está indo ao cliente final - diz uma alta fonte da área petroquímica.

Um especialista no setor pondera que seria difícil a Braskem não detectar algum esquema irregular anterior à aquisição da então Ipiranga Química - que originou a Varient -, uma vez que o grupo tinha larga experiência em sinergias e os processos de auditoria que precedem aquisições são minuciosos.

A concentração vivida pelo setor no Brasil é uma tendência global. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), a indústria petroquímica faturou R$41 bilhões em 2010, dos quais R$27,8 bi da Braskem. O setor é fundamental para a indústria química, que no ano passado faturou R$228,8 bilhões. A petroquímica é a base da cadeia produtiva de setores como autopeças, tintas, espumas, pneus e embalagens.