Título: CPF de faxineira foi usado para fazer doação a entidades de até R$200 mil
Autor: Herdy, Thiago; Talento, Biaggio
Fonte: O Globo, 18/08/2011, Economia, p. 29

Trabalhadora diz que aprendeu o que é "laranja" na novela das nove

Letícia Lins

SÃO PAULO e RECIFE. A Polícia Federal cumpriu ontem pelo menos 14 mandados de busca, apreensão e prisão em São Paulo, um dos estados onde foi realizada a maior operação contra sonegação fiscal do país. A operação combinada entre Receita Federal e Polícia Federal (PF) começou por volta das 4h na Superintendência paulista da PF. Ainda não eram 6h da manhã, quando, em quatro viaturas, cerca de 20 policiais deram uma batida na casa da faxineira Vanusa Barbosa Ribeiro, na favela do Jardim Colombo, Zona Sul da capital. O nome de Vanusa consta como proprietária de uma empresa na Bahia, sua terra natal. Seu CPF também teria sido usado para fazer doações de R$5 mil e R$200 mil a entidades.

- O policial perguntou se eu estava ciente de que havia feito essas doações a umas instituições. Eu, fazendo doações? Ele me perguntou se eu era dona de uma empresa, EBC, eu acho, na Bahia. Eu nunca tive nada. Devem ter usado os meus documentos depois que eu fui roubada em Salvador, em 1997 - disse Vanusa ao GLOBO, depois de prestar depoimento por mais de uma hora na Superintendência da Policia Federal.

Faxineira vive com diária de R$80

Vanusa, que não teve prisão decretada, foi considerada uma "laranja" das inúmeras do esquema de sonegação fiscal. A mulher, que trabalha quatro vezes na semana recebendo diárias de R$80, mostrou ter aprendido o que é um "laranja" assistindo televisão.

- É como na novela (Insensato Coração, da TV Globo), que teve o Cortez safado (banqueiro) que pôs a casa no nome da mulher sem a mulher saber. E a mulher, a Haydê, é como eu, uma simples faxineira - comparou Vanusa.

Com o dia perdido prestando depoimento na Polícia Federal, Vanusa reclamava:

- Eu queria saber quem vai pagar a minha diária hoje. Eu num miserê... Será que tem como processar essas pessoas?

A faxineira não soube dizer para quem teriam sido feitas as doações nem sabia o nome exato da empresa baiana listada no esquema da qual seria proprietária

- A polícia me mostrou uma lista com muitos nomes de empresas, nomes que eu nem sabia que existem. E perguntou se eu conhecia umas pessoas, mas eram muitos nomes.Tinha Alexandre, João, Carlos, Antonio, mas eu não lembro direito. A empresa que eles disseram que está no meu nome é de produtos.

Em Pernambuco, a Operação Alquimia levou um comerciante, suspeito de sonegação à prisão, segundo confirmou a Polícia Federal que, no entanto, não revelou o seu nome. Ele foi preso na Zona Sul da capital, onde tinha um apartamento de luxo, que foi bloqueado pela PF.

Vinte policiais participaram da ação no estado, para cumprir um mandado de prisão temporária e quatro mandados de busca e apreensão.

Segundo o assessor de imprensa da Polícia Federal em Recife, Giovani Santoro, foram apreendidos seis veículos, o apartamento, um notebook, dois HDs de computadores além de diversas notas fiscais.

Preso em Recife está à disposição da Justiça de Minas

Todo o material será enviado para a Superintendência da PF em Minas Gerais, que ontem deflagrou a Operação Alquimia, para cumprir 31 mandados de prisão temporária, 129 de busca e apreensão e 63 de condução coercitiva.

O comerciante foi conduzido para o Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel) e está agora à disposição da Justiça Federal em Minas Gerais, onde a fraude que pode ter rendido um prejuízo de R$1 bilhão aos cofres públicos começou a ser investigada.